Inovando amanhã o
As conquistas do Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância na América
Latina e no Caribe



As conquistas do Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância na América
Latina e no Caribe
Este documento foi elaborado por Carolina Freire, Joaquín Paseyro Mayol, Vanesa Marazzi, Marta Rubio-Codina e Romina Tomé (SCL/SPL).
Os autores agradecem os comentários de Pablo Ibarrarán e David Kaplan (SCL/SPL), Equipe GPS/GCM, Marian Licheri e os parceiros doadores do Fundo de Inovação para o Desenvolvimento Infantil.
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As conquistas do Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância na América Latina e no Caribe
O Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância: um modelo de investimento para fechar as lacunas na
AED
ALC
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CAIPI
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CDC
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CLASS
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Centros Comunitarios de Atención a la Primera Infancia
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Classroom Assessment Scoring System
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Centro de Referência de Assistência Social Caregiver Reported Early Development Index
Departamento Administrativo Nacional de Estadística
Dialogic Book-Sharing
Desarrollo Óptimo en Niños
Desvios-Padrão
Desenvolvimento da Primeira Infância
Espacios Amigos de la Infancia
Early Childhood Development Index 2030
Emotional Intelligence Index
Étude Longitudinal du Développement des Enfants du Québec
Encuesta Nacional de Alimentación y Nutrición Infantil
Encuesta Nacional de Salud y Nutrición
Hogares Comunitarios de Bienestar
Home Observation for Measurement of the Environment
Family Care Indicators
Fundación para el Desarrollo Humano Vital
Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância
Instituto Colombiano de Bienestar Familiar
Instituto Mexicano del Seguro Social
Instituto Nacional de la Mujer
Inventario de Desarrollo Infantil
Innovations for Policy Action
Infant and Toddler Environment Rating Scale-Revised
OCDE
OMS
ONG
OPS
MICS
MIDES MINED
MEN
PAF
PED
PIA
PIB
PRIDI
PSOC
PSS
REDCUDI
RUL
SDQ
SEP
SIPINNA
SNDIF
UNESCO
UNICEF
WiP
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Organização Mundial da Saúde
Organização Não Governamental
Organização Pan-Americana da Saúde
Pesquisas de Indicadores Múltiplos
Ministerio de Desarrollo Social
Ministerio de Educación
Ministerio de Educación Nacional
Programa de Acompañamiento Familiar
Play Every Day
Primeira Infância Acolhida
Produto Interno Bruto
Proyecto Regional de Indicadores de Desarrollo Infantil
Parental Sense of Competence
Parental Stress Scale
Red Nacional de Cuido y Desarrollo Infantil
Reach Up and Learn
Strengths and Difficulties Questionnaire
Secretaría de Educación Pública
Secretaría Ejecutiva del Sistema Nacional de Protección Integral de Niñas, Niños y Adolescentes
Sistema Nacional para el Desarrollo Integral de la Familia
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
Fundo das Nações Unidas para a Infância
Well-being in Pregnancy
Inovação para o desenvolvimento da primeira infância em um mundo em transformação
Ferdinando Regalia
Gerente, Setor Social Banco Interamericano de Desenvolvimento
O desenvolvimento da primeira infância (DPI) estabelece a base para uma vida inteira de aprendizagem, bem-estar e sucesso. No entanto, na América Latina e no Caribe (ALC), milhões de crianças não têm acesso aos recursos necessários para um desenvolvimento ideal. A pobreza –e, consequentemente, a falta de serviços básicos, alimentação adequada e nutritiva, serviços de desenvolvimento para a primeira infância de qualidade e ambientes estimulantes ricos em interação, brincadeiras e materiais de aprendizagem– é o principal obstáculo para que elas atinjam seu pleno potencial.
Os deslocamentos forçados, os desastres naturais ou as condições ambientais adversas, como temperaturas extremas ou a má qualidade do ar, podem agravar ainda mais essa situação. Além disso, o investimento público na primeira infância na região está aquém do observado nos países de renda média e nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Diante desse cenário, a inovação é mais necessária do que nunca para garantir que os investimentos em DPI maximizem seu impacto. Nesse contexto, o trabalho do Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância (doravante denominado Fundo DPI), uma parceria entre o BID, a Fundação FEMSA, a Fundação van Leer, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a Porticus e a Open Society Foundations, é particularmente valioso.
O Fundo DPI tem sido orientado por uma visão ampla de inovação que vai além da tecnologia e da digitalização para melhorar a qualidade dos serviços para a primeira infância. Essa visão concretizou-se apoiando um portfólio de projetos que considera três elementos cruciais:
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Colocar as pessoas no centro. A inovação começa com a compreensão do contexto e das necessidades específicas das pessoas que receberão as intervenções. O Fundo DPI adotou essa abordagem na elaboração de seus projetos, aplicando censos e ferramentas de diagnóstico em países como El Salvador, Panamá e México para entender as características da população infantil e de seus cuidadores, as práticas parentais em seus lares ou a qualidade do atendimento nos centros de atenção infantil. Isso possibilitou a criação de intervenções adaptadas às realidades específicas das crianças, suas famílias e ambientes.
Gerar evidências para aprimorar os serviços de desenvolvimento da primeira infância. Evidências sólidas são fundamentais para aprimorar os serviços para a primeira infância. O Fundo DPI financiou estudos experimentais e outros estudos para avaliar a eficácia das intervenções destinadas a motivar a participação em serviços de educação infantil, promover o desenvolvimento da primeira infância
por meio de modalidades híbridas e melhorar a qualidade das interações entre as crianças e seus cuidadores, tanto nas famílias quanto nos centros de atenção. O conhecimento gerado por essas avaliações permite ajustar o desenho das intervenções, melhorá-las e ampliá-las com base em evidências rigorosas. Também financiou estudos de diagnóstico que permitiram a elaboração de intervenções em resposta aos desafios encontrados.
Promover a colaboração e as comunidades de aprendizagem. A inovação prospera com a colaboração. O Fundo DPI, sob a liderança do BID, criou uma parceria entre um conjunto de organizações comprometidas com o desenvolvimento da primeira infância. Essa parceria, juntamente com os esforços dos governos nacionais e locais, do setor privado e da sociedade civil, tem sido fundamental para o desenho, a implementação e, em alguns casos, a avaliação dos projetos.
Após oito anos impulsionando soluções inovadoras para a primeira infância na América Latina e no Caribe, o Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância encerra uma etapa em que se concluem as atividades operacionais. No entanto, seu legado continua. Os projetos implementados, as avaliações realizadas e as parcerias construídas demonstraram que a inovação não é apenas possível, mas necessária para melhorar a qualidade e o alcance dos serviços para as crianças e suas famílias.
A tarefa não termina aqui. Vamos continuar apostando em inovação, evidências e colaboração para garantir que todas as meninas e meninos da região tenham as oportunidades de que precisam desde o início de suas vidas.
O Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira
Infância: um modelo de investimento para fechar as lacunas na América Latina e no Caribe
O que é o desenvolvimento da primeira infância e por que ele é importante?
O período da gestação até os 5 anos de idade é vital para a formação do cérebro (Shonkoff e Phillips, 2000). É durante esse período que são lançadas as bases para o desenvolvimento motor, socioemocional, cognitivo e de linguagem, habilidades que são fundamentais para a aprendizagem futura e para o desempenho e o bem-estar ao longo da vida. Consequentemente, as experiências e intervenções na primeira infância têm um impacto intenso e duradouro (Black et al., 2017). Para atingir todo o seu potencial, as crianças precisam ter acesso a materiais lúdicos, interações calorosas e receptivas e um ambiente que ofereça apoio emocional e estimule o desenvolvimento. Elas também precisam de boa saúde, nutrição adequada e segurança física e emocional (Britto et al., 2017)
As políticas públicas destinadas a melhorar a qualidade dos ambientes de cuidados da primeira infância –especialmente entre as populações mais pobres e vulneráveis– podem melhorar o desenvolvimento infantil, promover maior equidade e gerar retornos sociais e econômicos tangíveis. De fato, essas políticas representam o investimento social mais custo-efetivo e com maior retorno em comparação com aquelas voltadas para outras idades. Estima-se que programas de alta qualidade para crianças vulneráveis desde o nascimento até os 5 anos de idade podem gerar um retorno sobre o investimento de quase 14% ao ano (García et al., 2020). Não realizar esses investimentos impõe um alto custo à sociedade, pois priva as crianças da possibilidade de um melhor nível de escolaridade, maior renda de trabalho na idade adulta e melhor saúde física e mental. Esse benefício (líquido) perdido –conhecido como "custo da inação"– representa, em média, 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) na América Latina e no Caribe (ALC) (Nores et al., 2024). O investimento no desenvolvimento da primeira infância (DPI) também amplia as oportunidades de emprego para as mulheres, melhora as condições laborais de uma força de trabalho majoritariamente feminina (cuidadoras) e promove uma distribuição mais equitativa das tarefas de cuidado no lar (BID, 2024).
Os países da ALC fizeram um progresso notável na redução da pobreza infantil e na melhoria da saúde e nutrição da primeira infância. Desde 1989, o número de crianças menores de 5 anos em situação de pobreza ou com desnutrição crônica –dois fatores determinantes do desenvolvimento infantil e considerados bons indicadores desse desenvolvimento (GranthamMcGregor et al., 2007)– foi reduzido em 40% e 20%, respectivamente 1 . No entanto, ainda existem lacunas significativas que são mais difíceis e custosas de serem eliminadas mais tarde na vida. A taxa de pobreza infantil na região chega a 35%, uma em cada quatro crianças não cumpre o cronograma completo de vacinação (UNICEF, 2022) e 18% das crianças com menos de 5 anos de
1 A taxa de pobreza infantil refere-se à porcentagem de crianças com menos de 4 anos de idade que vivem em domicílios com renda por pessoa inferior a US$ 5 por dia, ajustada para a paridade do poder de compra (PPC) de 2011. A taxa reflete a média de 16 países, calculada com base em pesquisas domiciliares.
idade sofrem de raquitismo ou desnutrição crônica 2 , 1,3% sofrem de emaciação ou estão abaixo do peso para a altura e 6,8% estão acima do peso (UNICEF, OMS, Banco Mundial, 2021).
Além disso, as crianças das famílias mais vulneráveis –ou seja, aquelas na faixa de renda mais baixa ou com mães com baixo nível de escolaridade, entre as quais as famílias indígenas e rurais são a maioria– têm menos acesso a experiências estimulantes e a outros determinantes do DPI, como saúde e nutrição adequadas. Por exemplo, entre as crianças de mães com educação primária, nove em cada dez têm acesso a menos de três livros infantis e metade não brinca regularmente com os pais, uma atividade crucial para seu desenvolvimento cognitivo e socioemocional. Essa falta de estímulo pode levar a atrasos cumulativos no desenvolvimento da linguagem de até um ano e meio até os 5 anos de idade, colocando os filhos de mães com menor escolaridade em desvantagem mesmo antes de iniciarem a educação primária, em comparação com os filhos de mães com educação secundária ou superior (BID, 2024).
A região também enfrenta desafios para expandir a cobertura e melhorar a qualidade dos serviços de DPI –tanto de programas de atenção em centros quanto programas de apoio às famílias– que contribuem para fechar essas lacunas. Os dados mais recentes da UNESCO indicam que apenas 13% das crianças de 0 a 2 anos e 71% das crianças de 3 a 5 anos frequentam centros de cuidado e educação infantil (UNESCO, 2024) 3 . Esses números representam menos da metade da taxa de frequência dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para crianças mais novas e 20 pontos percentuais a menos para crianças mais velhas. Os programas de apoio às famílias –que buscam melhorar as práticas de cuidados parentais e com as crianças por meio de visitas domiciliares, reuniões de grupo, ou ambos– estão presentes em escala em apenas alguns países da ALC. Sua cobertura varia de 22% das famílias com crianças na faixa etária-alvo na Colômbia (475.000 famílias) a 1% no Chile (14.000) (BID, 2024). A cobertura relativamente baixa desses programas pode ser atribuída à má focalização, à insuficiente e frequente rotatividade de pessoal, entre outras limitações da prestação de serviços, mas também à baixa adesão das famílias e às dificuldades em manter a adesão (Berlinski e Schady, 2015).
A pandemia da COVID-19 exacerbou as lacunas no acesso a serviços sociais, de saúde e de educação básica. A interrupção dos serviços de educação infantil na ALC afetou 22,3 milhões de crianças de 3 a 5 anos de idade (Lopez Boo et al., 2023). Mesmo após a reabertura, a frequência nesses espaços não recuperou os níveis pré-pandêmicos. De acordo com dados da UNESCO, a taxa de atendimento caiu de 74% em 2019 para 71% em 2022 (UNESCO, 2024). A atenção reduzida durante a pandemia resultou em perdas significativas de aprendizagem. Por exemplo, em municípios de baixa renda em Santiago, Chile, foi observada uma deterioração no desenvolvimento da linguagem equivalente a ter uma mãe com aproximadamente 5 anos a menos de educação (Abufhele et al., 2022). Da mesma forma, no Uruguai, crianças de origens socioeconômicas mais vulneráveis tiveram perdas mais acentuadas no desenvolvimento motor e cognitivo –especialmente em habilidades lógicomatemáticas e de linguagem– do que seus pares de renda mais alta (González et al., 2022).
Além da cobertura, a qualidade do atendimento nem sempre é rica em interações calorosas, estimulantes e promotoras do desenvolvimento. Com relação à qualidade das interações –ou
2 A desnutrição crônica é definida como uma pontuação z inferior a -2 desvios-padrão (DP) da média da população de referência na relação altura/idade. A taxa reflete a média de 24 países. A emaciação refere-se ao baixo peso em relação à altura, ou seja, uma relação peso/altura abaixo de -2 DP da média dos padrões de crescimento infantil da OMS. O sobrepeso infantil, por outro lado, é definido como uma relação peso/altura maior que +2 DP acima da média dos mesmos padrões.
3 As taxas de frequência foram calculadas usando o último ano disponível entre 2022 e 2024. Para a frequência em centros, foram usados dados de 13 países da ALC e 19 países da OCDE, conforme disponíveis. Para a frequência à educação infantil, foram usados dados de 25 países da ALC e 33 países da OCDE, respectivamente.
qualidade do processo– as evidências de vários países da região revelam que, em geral, persistem níveis médio-baixos a baixos nas áreas de apoio emocional e comportamental e apoio motivacional para a aprendizagem, considerada a variável mais fortemente associada ao desempenho das crianças no sistema de educação formal (Araujo et al., 2016; Hamre e Pianta, 2007) . Uma compilação de parâmetros de qualidade estrutural para programas de atenção em centros em quatro países da ALC mostra uma grande variabilidade no número de crianças por cuidador, nível de escolaridade e experiência da equipe. Por exemplo, a proporção de crianças por cuidador varia de quinze na Argentina a nove no Equador e no Peru, e entre cinco e seis no México (Rubio-Codina et al., 2021). Também nos programas que trabalham com famílias, a expansão de modelos bemsucedidos –inicialmente implementados em pequena escala– tem apresentado dificuldades para manter a qualidade e a fidelidade ao modelo original (BID, 2024).
Apesar das evidências que sustentam os benefícios do investimento em DPI, os gastos públicos com a primeira infância na ALC continuam atrás dos gastos dos países de renda baixa e média com alto desempenho e dos países não latino-americanos da OCDE. As evidências disponíveis mostram que os níveis atuais de financiamento na região não são suficientes para garantir a prestação adequada de serviços sustentáveis, equitativos e de qualidade. Entre 2020 e 2021, a ALC investiu, em média, 0,34% do PIB na educação infantil, enquanto os países da OCDE não latino-americanos destinaram 0,54% do PIB e os países nórdicos, 0,90% (BID, 2024). Se os jardins de infância forem incluídos, o gasto médio nos países nórdicos foi de mais de 1% do PIB (OCDE, 2021). Assim, o gasto público total por criança com menos de 5 anos nos países nórdicos (US$ 11.000 em termos de poder de compra) é mais de cinco vezes maior do que na Colômbia, Costa Rica ou México (menos de US$ 2.000). O investimento também deve favorecer intervenções de alta qualidade para maximizar o impacto dos recursos. Daí a importância de se ter evidências e experiência sobre os esquemas de implementação e intervenções mais eficazes no desenvolvimento da primeira infância e os fatores que determinam seu sucesso na ampliação com qualidade.
Entretanto, não basta aumentar o investimento público. É essencial complementá-lo com uma estrutura institucional sólida, uma coordenação eficaz entre as instituições responsáveis pelas políticas e programas de DPI e o gerenciamento de parcerias com o setor privado. Em nível institucional, um estudo realizado em dez países da ALC documenta que todos desenvolveram planos, estratégias ou políticas nacionais integradas em torno do DPI e que sete deles estabeleceram estruturas legais que apoiam sua sustentabilidade de longo prazo (Inter-American Dialogue, 2020). No entanto, em sete desses dez países, as entidades que implementam essas políticas não têm autonomia ou recursos suficientes, nem mesmo funções bem definidas, e enfrentam desafios de coordenação intersetorial. No que diz respeito ao setor privado, ele complementa as restrições de capacidade dos governos por meio de financiamento ou prestação direta de serviços. Um número cada vez maior de empresas da região oferece soluções de cuidados infantis em nível corporativo. Muitas organizações da sociedade civil também oferecem serviços de cuidados e formam alianças que promovem políticas de DPI (Inter-American Dialogue, 2020). Apesar desses avanços, o desafio continua sendo criar oportunidades para forjar parcerias duradouras entre os governos, o setor privado e a sociedade civil (Inter-American Dialogue, 2020).
Diante do desafio de investir mais e melhor para contribuir com o fechamento das lacunas em DPI, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) criou o Fundo de Inovação para o Desenvolvimento da Primeira Infância (doravante Fundo DPI) em 2017, em parceria com um conjunto de organizações comprometidas com o desenvolvimento infantil. Essa iniciativa mobilizou recursos de várias fontes para projetar, implementar e avaliar soluções inovadoras e potencialmente escaláveis destinadas a melhorar a vida das crianças menores de 5 anos e de suas famílias nas populações mais desfavorecidas da ALC, contribuindo assim para a redução da desigualdade. O Fundo DPI também se tornou uma plataforma pioneira na região para a geração e a disseminação de conhecimento especializado em DPI entre os setores público, privado, acadêmico e não governamental.
A criação do Fundo DPI respondeu a vários fatores. Primeiro, a importância do papel do setor privado e da sociedade civil na expansão do acesso a serviços de qualidade foi reconhecida como complementar à ação do governo (Center for Universal Education at Brookings, 2017). Em segundo lugar, considerou-se necessário mobilizar mais recursos financeiros para tratar as lacunas de DPI com abordagens inovadoras, como novas estratégias eficazes para melhorar a qualidade dos serviços ou expandir sua cobertura. Ao combinar os recursos de capital social do BID com fundos não reembolsáveis de outras entidades, o Fundo DPI permitiu a diversificação das fontes de financiamento em torno de um objetivo comum. Em terceiro lugar, respondeu à necessidade de criar mecanismos para assumir os riscos associados à aplicação de abordagens inovadoras que nem sempre são viáveis em esquemas de programação tradicionais ou no ambiente governamental. A adoção de modelos ou metodologias experimentais, como pilotos, protótipos ou tecnologias emergentes, pode acarretar um alto risco devido à incerteza inerente à inovação. No entanto, o Fundo DPI forneceu um mecanismo capaz de lidar com essas contingências, permitindo que tais iniciativas fossem implementadas e ampliadas para promover mudanças positivas e duradouras no desenvolvimento infantil. Por fim, buscou fortalecer as redes, criar comunidades e promover o intercâmbio de conhecimento em DPI em nível local, regional e global.
O Fundo DPI foi coordenado e gerenciado pelo BID, juntamente com os seguintes parceiros doadores, que acompanharam o processo:
Fundação FEMSA : criada em 2008 com o objetivo de gerar um impacto positivo nas pessoas e comunidades por meio de projetos de investimento social para a sustentabilidade, a Fundação investe em segurança hídrica, primeira infância, arte e cultura e economia circular. Na primeira infância, financia programas destinados a promover o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças, fortalecendo as capacidades dos pais e cuidadores, desenvolvendo hábitos saudáveis e criando espaços amigáveis.
Fundação Van Leer: é uma organização independente que trabalha desde 1949 em prol da primeira infância. Ela promove o desenvolvimento de crianças de 0 a 8 anos de idade em situações de vulnerabilidade social e econômica. Seu foco principal são os programas de apoio aos pais e cuidadores, a integração de elementos de desenvolvimento infantil no planejamento e na gestão urbana e a promoção de boas práticas e evidências para ampliar os programas bem-sucedidos de DPI.
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal: criada em 1965, promove o desenvolvimento infantil no Brasil com foco na primeira infância e nas famílias. A Fundação trabalha para fortalecer a conscientização sobre a importância da primeira infância para o desenvolvimento humano e apoia projetos que melhoram a qualidade do cuidado e da educação da primeira infância, incluindo o fortalecimento das habilidades parentais e dos cuidadores e profissionais.
Porticus: fundada em 1995, é uma organização privada cujas contribuições filantrópicas se concentram nas áreas de sustentabilidade ambiental e mudanças climáticas; promoção de justiça social, equidade e resiliência comunitária; apoio a organizações religiosas que trabalham para o bem comum; e educação inclusiva e de qualidade com foco no desenvolvimento de habilidades socioemocionais para crianças e adolescentes que enfrentam situações adversas.
Open Society Foundations: estabelecida em 1993, é uma rede filantrópica que fornece financiamento a grupos da sociedade civil em todo o mundo para promover o respeito aos direitos humanos, a governança democrática e a liberdade de imprensa, bem como o acesso à justiça e à educação e saúde de qualidade.
O BID assumiu a coordenação do Fundo DPI devido ao seu valor agregado como parceiro estratégico dos países da ALC. Com presença em 26 dos 33 países da região e um diálogo permanente com seus governos, o BID está em uma posição privilegiada para identificar necessidades específicas e desenvolver projetos com componentes do DPI. Até 2025, esses projetos representarão um investimento de mais de US$ 1,2 bilhão. Além disso, a coordenação do Fundo DPI aproveita o conhecimento acumulado da instituição sobre as soluções mais eficazes para enfrentar os desafios do DPI, bem como sua ampla rede de parceiros no governo, na sociedade civil, no setor privado e no meio acadêmico, por meio da qual promove políticas e programas baseados em evidências.
Como funciona?
O Fundo DPI combinou recursos de diferentes fontes, tanto do BID quanto de parceiros doadores. Entre 2017 e 2025, ele teve dois esquemas de financiamento: (i) a Plataforma de Financiamento e (ii) a Aliança de Financiamento. A estrutura usada para organizar e gerenciar os recursos do Fundo DPI, bem como os mecanismos usados para a seleção, o gerenciamento e o monitoramento dos projetos beneficiários, são descritos a seguir.
Pl a t a fo r ma d e Financiamento ( 2 01 7-2 025 )
A l ia n ça d e F i na n c i a m en to ( 2 02 1 -2 023 )
A Plataforma de Financiamento incluiu recursos provenientes de três fontes: (i) o Programa Estratégico de Desenvolvimento do BID, (ii) o Fundo Multidoadores e (iii) as Contribuições para Projetos Específicos de doadores externos. O Programa Estratégico de Desenvolvimento do BID opera com recursos do capital ordinário do BID e financia projetos por meio de assistência técnica não reembolsável aos países membros. O Fundo Multidoadores foi organizado como um fundo fiduciário multilateral, composto por contribuições das Fundações Open Society e da Fundação FEMSA, que fizeram uma contribuição geral para financiar projetos selecionados com base em mecanismos definidos. Enquanto isso, as Contribuições para Projetos Específicos de doadores externos consistiram em fundos fornecidos pela Porticus e pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal para financiar projetos específicos. Os projetos selecionados foram gerenciados pelo BID de acordo com suas políticas e diretrizes para a execução de projetos com financiamento não reembolsável.
Para serem selecionados, os projetos financiados pelo Fundo DPI tiveram que atender a uma série de critérios:
Ser executados em países membros do BID.
Ser escaláveis, abrangendo aspectos como acessibilidade, lucratividade, viabilidade com recursos públicos, sustentabilidade para além da vida útil do projeto e medição do impacto.
Concentrar-se em populações desfavorecidas, incluindo os 20% mais pobres e outros grupos vulneráveis, como crianças com deficiências, povos indígenas, famílias deslocadas ou refugiadas, pessoas expostas a situações de violência, entre outros.
Promover soluções inovadoras para os problemas que afetam o desenvolvimento infantil.
Envolver governos nacionais ou subnacionais e organizações não governamentais na elaboração dos projetos.
Estabelecer um período máximo de implementação de 36 meses e um financiamento máximo de US$ 700.000 por projeto.
Incentivar o cofinanciamento, entendido como contribuições em dinheiro ou em espécie de outras fontes (tanto de agências governamentais como instituições do setor privado).
Para serem avaliadas, as propostas deveriam aderir à definição de inovação estabelecida pelo Fundo DPI, entendida como: (i) programas com novos serviços, ferramentas ou processos operacionais; (ii) uma versão aprimorada de um programa existente; (iii) uma solução existente aplicada em um novo contexto; ou (iv) formas inovadoras de financiamento, incluindo títulos e investimentos de impacto social, entre outros.
Por fim, os projetos deviam alinhar-se a pelo menos uma das cinco áreas temáticas prioritárias identificadas nas diretrizes do Fundo DPI:
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Melhoria da qualidade dos programas de atenção em centros e ou de apoio às famílias: concepção e teste de novos modelos, processos operacionais, tecnologias ou ferramentas para melhorar a qualidade do atendimento à primeira infância em situação de vulnerabilidade em centros, nas famílias ou remotamente, bem como adaptar as intervenções existentes a novos contextos ou novas populações.
Programas de apoio às famílias escaláveis: projetar, implementar e avaliar programas de apoio às famílias para demonstrar os elementos necessários para aumentar seu alcance e eficácia.
Integração de serviços de DPI em intervenções contínuas de saúde, proteção social, educação ou outras intervenções relacionadas: apoiar o desenvolvimento do trabalho intersetorial, articulando iniciativas em nível nacional e subnacional nos países e contribuindo para integrar componentes de DPI em intervenções de saúde, nutrição, proteção social e educação.
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Geração de dados, estudos de diagnóstico e avaliação e disseminação de aprendizagens: gerar evidências quantitativas e/ou qualitativas por meio de assistência técnica, monitoramento rigoroso e avaliações de impacto sobre o efeito no desenvolvimento infantil ou na qualidade dos serviços, seja para aprimorar sua concepção ou para ampliá-los com base em evidências.
Fortalecimento das redes regionais de DPI e intercâmbio de conhecimentos e melhores práticas: posicionar a questão entre os principais públicos e promover o intercâmbio de conhecimentos e melhores práticas por meio de iniciativas como o desenvolvimento de eventos e a criação de uma rede regional de profissionais.
O processo de seleção dos projetos financiados por meio da Plataforma de Financiamento foi realizado por meio de um processo competitivo. Cinco rodadas de chamadas abertas foram realizadas em 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021 para a apresentação de propostas. Elas foram avaliadas pelo BID e pelos parceiros doadores usando uma escala de pontuação baseada em: (i)
conformidade com os critérios de seleção, (ii) alinhamento com as áreas temáticas prioritárias, (iii) capacidade de implementação da organização proponente e (iv) apresentação de uma metodologia de avaliação. Além disso, foram identificados projetos para financiamento futuro, caso haja recursos adicionais disponíveis.
Para monitorar o progresso físico e financeiro dos projetos financiados pelo Fundo DPI, foi criado um mecanismo de monitoramento que combinava: (i) relatórios anuais preparados pelas equipes de gestão setorial e de parcerias do BID, (ii) reuniões anuais de doadores em que os líderes de projetos apresentavam seu progresso, (iii) a produção de relatórios semestrais ou anuais seguindo os critérios de relatório de cada doador e (iv) um dashboard de monitoramento de projetos. Esse mecanismo de monitoramento colaborativo possibilitou avaliar a conformidade com os objetivos, as atividades, os resultados e os produtos esperados do Fundo DPI.
Em 2021, a Plataforma de Financiamento foi ampliada para incorporar novos doadores e aumentar os recursos por meio da modalidade de Contribuições Específicas do Projeto. Com a contribuição da Fundação van Leer e da Fundação FEMSA, o financiamento foi ampliado para um conjunto adicional de projetos focados em novas áreas, especificamente no uso da ciência comportamental para melhorar os serviços de desenvolvimento da primeira infância.
Nessa modalidade, o BID liderou a identificação das propostas de projetos, assegurando seu alinhamento com os mesmos critérios de elegibilidade da Plataforma de Financiamento e um interesse demonstrado pelas autoridades governamentais do país onde o projeto proposto é executado, a fim de garantir sua apropriação e implementação efetiva. O BID avaliou a qualidade técnica e a conformidade com os critérios de elegibilidade para priorizar os projetos, que foram então apresentados anualmente aos doadores para seleção.
Capítulo 2 Resultados de oito anos de inovação para a primeira infância na região
Desde sua criação em 2017, o Fundo de DPI investiu um total de US$ 10 milhões em 23 projetos em 10 países*, beneficiando mais de 700.000 crianças, 300.000 pais e cuidadores e 5.000 centros de atenção infantil. Entre 2017 e 2025, um total de 30 projetos foram selecionados, dos quais 7 foram cancelados devido a fatores institucionais e extemporâneos que afetaram sua implementação. Esses fatores incluem, em primeiro lugar, restrições decorrentes da pandemia da COVID-19, que limitaram significativamente as atividades planejadas em vários projetos; e, em segundo lugar, mudanças nas contrapartes institucionais, que levaram a alterações na priorização de determinadas intervenções.
países 10 projetos 23
300 mil
crianças +700 mil centros de atenção infantil 5 mil
pais, mães e cuidadores
Em termos de distribuição regional dos projetos, 54% foram implementados na América Central, 25% na região andina e 17% no Cone Sul. Os 4% restantes correspondem aos países do Caribe. O mapa a seguir detalha o financiamento de projetos por país.
As realizações dos projetos do Fundo DPI são diversas e, entre elas, destacam-se:
Incluir a qualidade dos serviços no centro da discussão sobre políticas para a primeira infância nos países onde foram implementados projetos nessa linha.
Analisar, trabalhar e apoiar o desenvolvimento de modalidades híbridas durante um momento crítico —como a pandemia da COVID-19— gerando conhecimento para continuar a implementá-las e aprimorá-las a fim de expandi-las, por exemplo, para populações remotas.
Gerar novas evidências a partir de avaliações, identificando, por exemplo, quais tipos de treinamentos para pais e cuidadores são mais eficazes na promoção de mudanças positivas nos padrões parentais. Vários projetos incluíram avaliações de impacto e/ou avaliações qualitativas (processo, aceitabilidade, etc.). Também foram realizados censos e diagnósticos sobre populações menos estudadas, como famílias de "salto geracional", aquelas em que as crianças crescem com os avós na ausência dos pais.
* Os projetos do Fundo DIT se estendem por 10 países: Brasil, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Jamaica, México, Panamá e Uruguai. No caso do projeto “Efeito da migração parental no desenvolvimento infantil precoce em El Salvador” (ver Ficha 11), foi inicialmente realizada uma análise de dados secundários em Honduras, Guatemala e El Salvador; no entanto, o censo exploratório foi realizado apenas em El Salvador.
Tratar da agenda da primeira infância com uma abordagem intersetorial, pois alguns dos projetos envolveram a participação de diferentes setores envolvidos na prestação de serviços para a primeira infância, como educação infantil e saúde.
Trabalhar em questões centrais, mas pouco exploradas, como a saúde mental de crianças e cuidadores e a situação das crianças migrantes, apoiando projetos que geraram novos modelos de promoção da saúde mental para cuidadores e intervenções para garantir a continuidade dos serviços pré-escolares para crianças migrantes.
Implementar projetos que criaram ferramentas de gestão concretas que, com base na economia comportamental, buscaram melhorar as práticas de atendimento e a qualidade dos serviços para a primeira infância.
México
Guatemala
El Salvador
Jamaica
Costa Rica
Panamá
Colômbia
TIPO DE INTERVENÇÃO
Apoio às famílias
Atenção em centros
MODALIDADE DE ENTREGA H P Presencial
R Remota ED H/R Híbrida Híbrida e remota
Sem entrega: estudo diagnóstico
Brasil
Uruguai
Além disso, o Fundo DPI contribuiu para a disseminação de conhecimento, evidências e boas práticas no campo do desenvolvimento da primeira infância por meio de duas plataformas: a Comunidade de Prática (COP, por sua sigla em inglês, Community of Practice) em DPI e o Hub de DPI.
A Comunidade de Prática em DPI foi criada em 2022 como uma rede de mais de 200 membros de governos, organizações não governamentais (ONGs), setor privado e instituições acadêmicas,
com o objetivo de compartilhar experiências e disseminar conhecimento sobre DPI, incluindo o aprendizado gerado pelo Fundo DPI. Seu objetivo é servir como uma plataforma para informar a elaboração de políticas baseadas em evidências, bem como para trocar práticas recomendadas de implementação e avaliação.
Entre 2022 e 2024, foram realizadas 9 sessões virtuais da COP –como webinários abertos ao público e workshops com constituintes da COP– com a participação de mais de 12.000 pessoas de 30 países. Essas sessões, em sua maioria coorganizadas por membros do Fundo DPI, concentraram-se no compartilhamento de diagnósticos sobre a situação da primeira infância na região, bem como no aprendizado e nas lições aprendidas sobre questões como a adaptabilidade dos serviços de DPI, a atenção às crianças migrantes e a eficácia das intervenções baseadas em ciências comportamentais, entre outras. Para ampliar o alcance e a divulgação dessas sessões, foram publicados 15 documentos e 43 blogs, com mais de 250.000 visitas e downloads. O Anexo 1 detalha os temas das sessões da COP e fornece links para os materiais associados.
5 membros
sessões da Comunidade de Prática
webinários abertos
4 participantes
12.000 com
200 blogs
43 e mais de leitores
250.000
O Hub de Conhecimento em Desenvolvimento da Primeira Infância, lançado em 2022, é um repositório com mais de dois mil recursos sobre desenvolvimento da primeira infância na ALC, projetado para promover o compartilhamento de conhecimento e fornecer acesso a informações geradas na região sobre esse tópico. Disponível em espanhol, inglês e português, essa iniciativa que promove a aprendizagem coletiva é destinada a governos, setor privado, sociedade civil, instituições acadêmicas, organizações internacionais, estudantes, famílias e todas as pessoas interessadas em conhecer e aprender sobre DPI. Esse Hub, acessível de forma aberta e gratuita pela Web e com mais de 200 mil visitas até 2025, tem entre seus principais recursos:
Mapa de inovações em DPI na região: por meio de um mapa interativo, o Hub facilita o acesso do usuário a um inventário de projetos considerados inovadores na região, que respondem a problemas ou necessidades locais em DPI, usando ferramentas, serviços ou processos operacionais novos ou aprimorados. Ele também inclui projetos que adaptam intervenções existentes a novos contextos ou novas populações. Por fim, incorpora outros que se concentram na análise de intervenções em escala, bem como avaliações do impacto sobre o desenvolvimento da primeira infância e a qualidade dos serviços.
Publicações: é oferecido um repositório de publicações para download, composto por artigos acadêmicos, documentos de políticas, estudos, relatórios e notas técnicas com conteúdo específico sobre DPI nos países da ALC.
Medição: são fornecidos links para pesquisas e outros instrumentos usados na região para medir o DPI e a qualidade do ambiente familiar, como os Inquéritos aos Indicadores Múltiplos (MICS) ou pesquisas longitudinais.
Ferramentas: são incluídos links para manuais aplicados na região para a implementação de programas de apoio às com famílias ou em centros de atenção infantil, guias curriculares, protocolos e diretrizes para a prestação de vários serviços de DPI destinados a cuidadores, docentes ou prestadores de serviços.
Organizações: é mantido um diretório de organizações que trabalham com DPI na ALC, incluindo: (i) redes de primeira infância; (ii) plataformas de informações; (iii) setor público, organizações de nível nacional com competência no desenvolvimento de políticas de DPI; (iv) setor privado e sociedade civil; (v) observatórios de inovação; (vi) centros de pesquisa; e (vii) organizações internacionais.
Blogs, vídeos, podcasts e cursos: são oferecidos artigos do blog Primeros Pasos do BID, que abordam questões relacionadas à primeira infância, bem como links para recursos multimídia que explicam conceitos e fornecem informações e aprendizagem sobre DPI na região.
Eventos: inclui um repositório de gravações de eventos, seminários e conferências regionais sobre uma variedade de tópicos, desde diagnósticos da situação da primeira infância na região até a formulação de políticas nacionais e locais.
A seguir, apresentamos uma descrição dos tipos de projetos financiados pelo Fundo DPI, de acordo com a área em que foram implementados: (i) projetos que trabalham com famílias e (ii) projetos de atenção em centros. O Anexo 2 mostra uma tabela com informações básicas sobre cada projeto e o Anexo 3 inclui uma ficha de cada projeto, destacando sua motivação, características e resultados alcançados.
A família é um dos pilares fundamentais do cuidado, desenvolvimento e bem-estar da primeira infância. As ações que os cuidadores realizam com seus filhos e os ambientes em que elas ocorrem são fundamentais para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e socioemocionais das crianças (Francesconi e Heckman, 2016). Por esse motivo, os programas de apoio às famílias são uma linha de ação prioritária para o Fundo DPI, que orientou a implementação de projetos destinados a melhorar os padrões parentais, incentivar brincadeiras e interações entre cuidadores e crianças e capacitar os cuidadores a lidar com situações adversas.
Com o advento da pandemia da COVID-19, surgiram novos desafios na região para garantir o desenvolvimento das crianças e o bem-estar de suas famílias. O fechamento prolongado dos serviços presenciais gerou retrocessos significativos no desenvolvimento da primeira infância (González et al., 2022) , enquanto o aumento da pobreza, da desigualdade e do desemprego agravou os níveis de estresse e a deterioração da saúde física e mental, especialmente nas famílias mais vulneráveis (Abufhele et al., 2022). Diante desse cenário, vários projetos apoiados pelo Fundo DPI adaptaram suas modalidades de trabalho, combinando interações presenciais e remotas ou migrando totalmente para formatos virtuais, a fim de garantir a continuidade dos serviços e evitar o agravamento das lacunas existentes.
No total, o Fundo DPI apoiou 16 iniciativas de apoio às famílias, com diferentes escopos e populações-alvo, das quais 5 foram realizadas em uma modalidade presencial e 11 de forma remota, virtual ou híbrida.
Entre as iniciativas implementadas, na Jamaica o programa Reach Up and Learn (RUL) foi adaptado para garantir a continuidade do apoio ao desenvolvimento da primeira infância durante a pandemia. Ele passou de visitas domiciliares presenciais para formatos remotos e depois híbridos. O RUL é um programa estruturado de visitas domiciliares que acompanha e fortalece as habilidades parentais dos cuidadores domiciliares para aprimorar o desenvolvimento holístico das crianças. Sua implementação em vários países dentro e fora da região mostrou resultados positivos no desenvolvimento cognitivo e da linguagem (Jervis et al., 2023). No contexto do projeto do Fundo DPI, foram combinadas visitas presenciais e sessões remotas, implementadas pela equipe dos serviços de atenção primária à saúde. A eficácia desse modelo híbrido foi avaliada por meio de uma avaliação de impacto e de uma avaliação qualitativa para orientar a estratégia de ampliação.
No Brasil, na cidade de Boa Vista, foi desenvolvida uma intervenção baseada no currículo RUL, ampliando seu escopo para incluir tópicos como amamentação, vínculo precoce e saúde mental materna, com o objetivo de melhorar a sobrevivência neonatal e o desenvolvimento infantil. A implementação foi avaliada por meio de visitas domiciliares ou sessões de grupo com gestantes, mães e crianças de até 3 anos de idade. Em ambas as modalidades, a implementação foi realizada por trabalhadores de serviços sociais.
Também no Brasil, na cidade de Pelotas, foram avaliados os efeitos de médio prazo (aos 3 e 4 anos) de duas intervenções breves e de baixo custo para reduzir as práticas parentais violentas no âmbito do programa Primeira Infância Acolhida (PIA). O foco foi a redução do uso da violência e a promoção da comunicação positiva. Uma modalidade promoveu a leitura compartilhada entre cuidadores e crianças, enquanto a outra ofereceu sessões de grupo sobre gerenciamento emocional e desenvolvimento infantil em resposta aos altos níveis de agressão no lar.
Na Colômbia, em resposta aos efeitos do conflito armado e do deslocamento forçado, um estudo de métodos mistos foi apoiado para avaliar o potencial de ampliação do Semillas de Apego (Sementes de Apego), um programa comunitário de saúde mental e desenvolvimento infantil para cuidadores de crianças de 0 a 5 anos. A intervenção oferece espaços de grupo semanais orientados por facilitadores da comunidade, com foco em regulação emocional, vínculo e resiliência. A abordagem combina atendimento psicossocial e promoção do desenvolvimento da primeira infância em contextos altamente vulneráveis.
Também na Colômbia, diante do crescente fluxo migratório de famílias venezuelanas, foi desenvolvida uma estratégia para auxiliar crianças pequenas em trânsito e seus cuidadores. Foram criados espaços físicos de recepção e distribuídos kits educacionais e ferramentas digitais para oferecer estimulação precoce, apoio psicossocial e materiais educacionais em pontoschave ao longo da rota migratória. Esse projeto forneceu importantes lições aprendidas para a elaboração de estratégias de atendimento relevantes para famílias migrantes em trânsito.
Da mesma forma, por meio dos Lares Comunitários de Bem-estar (HCB) gerenciadas pelo Instituto Colombiano de Bienestar Familiar (ICBF), foi implementado o programa Educar con Equidad (Educar com Equidade), baseado no Think Equal4 , uma proposta híbrida para fortalecer as habilidades socioemocionais de crianças de 3 a 6 anos de idade em contextos afetados pela violência. O programa foi adaptado linguística e culturalmente ao contexto local e implementado nas regiões do país historicamente mais afetadas pelo conflito armado. Foram incorporados materiais digitais e audiovisuais para promover a empatia, a regulação emocional e a resiliência desde a primeira infância, trabalhando diretamente com o cuidador da família. O impacto do Educar con Equidad foi medido por meio de uma avaliação piloto.
No mesmo país, a estratégia Conectar para Educar foi projetada e testada por meio de estratégias participativas baseadas no design centrado no usuário, combinando ferramentas tecnológicas com uma proposta pedagógica multimodal para fortalecer a educação infantil em contextos de baixa conectividade. Foram desenvolvidos recursos de formação para agentes educacionais e atividades adaptadas para as famílias, por meio de WhatsApp, rádio e materiais impressos. A iniciativa surgiu em resposta aos desafios revelados pela pandemia, para garantir a continuidade da aprendizagem em casa e melhorar as interações pedagógicas.
4 O Think Equal é um programa desenvolvido por especialistas internacionais com foco na geração de oportunidades de aprendizagem socioemocional para crianças de 3 a 6 anos. Seu objetivo é fornecer ferramentas para ajudá-las a lidar com situações difíceis e gerenciar suas emoções, além de promover a inovação educacional a fim de contribuir para a eliminação dos ciclos de violência e discriminação.
No Uruguai, o serviço de visitas domiciliares do Programa de Acompañamiento Familiar (Programa de Acompanhamento Familiar) foi adaptado para uma modalidade remota para responder à alta demanda e às restrições de mobilidade resultantes da pandemia da COVID-19. Foram implementadas chamadas semanais, mensagens personalizadas e um chatbot interativo, complementado por inteligência artificial para analisar as interações familiares e orientar o acompanhamento. Como a demanda pelo programa excedeu a capacidade de oferta, a inclusão das famílias interessadas foi aleatória, permitindo uma avaliação rigorosa de seu impacto.
Além disso, também no Uruguai, o escopo do programa Crianza Positiva (Parentalidade Positiva) foi ampliado para oferecer cuidados durante a gravidez por meio de ferramentas digitais destinadas aos pais. Um sistema de mensagens para mães e pais de crianças de 0 a 2 anos que participam do programa também foi incorporado. Por meio de um chatbot, foram enviadas mensagens sobre saúde emocional, nutrição, corresponsabilidade e estimulação precoce, facilitando o acesso a informações importantes em contextos vulneráveis e usando princípios de economia comportamental. O impacto do Crianza Positiva foi avaliado por meio de um estudo experimental.
Em El Salvador, foram realizados dois censos exploratórios –um em domicílios com crianças de 1 a 7 anos de idade e outro com crianças e adolescentes de 0 a 18 anos– para entender os efeitos da migração parental sobre o desenvolvimento e o desempenho dessas crianças. As informações coletadas abordaram a composição familiar, as práticas parentais, a escolaridade e o bem-estar emocional, a fim de gerar evidências para orientar e informar intervenções e políticas em contextos de alta migração.
Com base no censo de crianças (de 1 a 7 anos de idade), que buscou identificar domicílios com "salto geracional" –em que as crianças crescem com os avós na ausência dos pais–, o programa Tuchan foi elaborado. Por meio de mensagens de texto, telefonemas, grupos de WhatsApp, treinamento sobre como estimular o desenvolvimento cognitivo e socioemocional e materiais impressos, o Tuchan forneceu apoio aos avós e a outros cuidadores nesses lares que saltavam gerações para promover práticas parentais sensíveis e adaptadas ao contexto de migração e pobreza. O impacto de diferentes modalidades de intervenção –com e sem capacitação– foi avaliado por meio de métodos experimentais.
Além disso, o programa Empodera tu Mente en Familia (Empodera tua Mente em Família) foi desenvolvido para promover uma mentalidade de crescimento em cuidadores de crianças de 4 a 7 anos de idade. A intervenção combinou visitas domiciliares, sessões telefônicas e mensagens de texto para promover o elogio ao esforço e à perseverança, fortalecendo as interações entre cuidadores e crianças em contextos marcados pela evasão escolar e pela violência. Seu impacto foi avaliado experimentalmente.
Na Guatemala, para evitar que as lacunas no desenvolvimento da primeira infância se aprofundassem durante a pandemia, foi lançada uma campanha de mensagens –voltada para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional– para acompanhar os cuidadores de crianças de 4 e 5 anos de idade em lares vulneráveis durante o fechamento dos centros de atenção infantil. O impacto diferencial da incorporação de mensagens com conteúdo socioemocional em comparação com mensagens com conteúdo exclusivamente cognitivo foi avaliado experimentalmente.
No México, o programa Juega Todos los Días (Brinca Todos os Dias) foi projetado e implementado
em lares com crianças de 0 a 2 anos de idade, como uma adaptação do programa Play Every Day de Sesame Workshop. A iniciativa tinha como objetivo promover o desenvolvimento cognitivo e socioemocional por meio de brincadeiras. A proposta combinava sessões presenciais e remotas, nas quais os educadores orientavam os cuidadores em atividades lúdicas para estimular a aprendizagem em casa. Seu impacto foi avaliado por meio de métodos quantitativos (avaliação experimental) e qualitativos (entrevistas semiestruturadas).
Por fim, também no México, duas iniciativas — Bebés Más Fuertes y Desarrollo Óptimo de Niños (Bebês Mais Fortes e Desenvolvimento Ótimo em Crianças)– foram desenvolvidas e implementadas para melhorar as práticas parentais em lares com crianças pequenas. As intervenções ofereceram sessões em grupo e individuais com foco em tópicos como desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, aconselhamento sobre amamentação, melhoria da autoestima, estimulação da linguagem e habilidades socioemocionais. As iniciativas foram avaliadas por meio de métodos mistos: avaliação quantitativa e qualitativa.
Os centros de atenção infantil e as pré-escolas são outra área fundamental para o desenvolvimento da primeira infância devido à sua capacidade de oferecer cuidados, oportunidades de aprendizagem, nutrição e, em alguns casos, serviços de saúde. Portanto, é importante garantir a cobertura –especialmente nos ambientes mais vulneráveis– e a qualidade da oferta de acordo com os padrões definidos. Isso implica abordar, a partir de uma perspectiva integral, as diferentes dimensões da qualidade, prestando atenção aos aspectos organizacionais e de construção e, fundamentalmente, observando a qualidade das interações entre crianças e cuidadores. O Fundo DPI apoiou inovações destinadas a aumentar os níveis de desenvolvimento na primeira infância por meio da melhoria da qualidade dos centros. No total, foram apoiadas sete iniciativas baseadas em centros de educação infantil (de educação básica ou pré-escolar), das quais uma foi realizada remotamente.
No Uruguai, uma intervenção baseada nos princípios da ciência comportamental foi desenhada para combater o absenteísmo na educação pré-escolar, especialmente entre crianças de baixo nível socioeconômico. Por meio de mensagens de texto enviadas aos responsáveis durante treze semanas, foram compartilhadas informações sobre os benefícios da frequência contínua e estratégias para o planejamento de rotinas familiares. Essa iniciativa buscou reduzir as barreiras cognitivas e reforçar o compromisso dos pais com a educação infantil, e foi submetida a uma avaliação de impacto.
No Brasil, a fim de gerar evidências sobre os efeitos de longo prazo do acesso a creches e dada a oferta insuficiente, um sorteio foi criado em 2007 para alocar vagas no Rio de Janeiro. Esse foi um experimento que, anos depois, entre 2010 e 2018, foi usado para avaliar os impactos de médio prazo da frequência em creches públicas. Dados administrativos do sistema educacional foram usados para estudar o desempenho acadêmico e as trajetórias educacionais.
No México, foi realizado um estudo nacional para diagnosticar a qualidade dos serviços de cuidados infantis. A pesquisa avaliou tanto a qualidade estrutural quanto a qualidade das interações em centros de atenção infantil públicos para crianças menores de 3 anos, usando ferramentas padronizadas para medir a dinâmica da sala de aula e as condições do ambiente físico.
Com base nos resultados desse diagnóstico e com o objetivo de melhorar a qualidade das interações nos centros, foi desenvolvido o programa Luciérnaga, (Vaga-lume), uma estratégia de orientação criada em conjunto com educadores e funcionários públicos do Instituto Mexicano del Seguro Social (IMSS). A implementação do programa é estruturada em ciclos de planejamento, observação e feedback em torno de doze práticas priorizadas para fortalecer as interações entre cuidador e criança. O programa Luciérnaga inclui um kit de ferramentas com guias, vídeos e outros recursos para a capacitação contínua de mentores e agentes educacionais. Está em andamento uma avaliação qualitativa de sua implementação, que orientará a ampliação futura. Também no México, para melhorar a qualidade da educação nos Centros de Atenção Infantil Comunitários (CAIC) localizados em áreas vulneráveis, foi implementado um primeiro piloto do modelo aeioTU, uma abordagem pedagógica inspirada na filosofia Reggio Emilia que coloca a criança como protagonista de sua própria aprendizagem, promovendo a exploração, a arte e a brincadeira como meios para o desenvolvimento integral. A iniciativa incluiu formação virtual, acompanhamento pedagógico e a adaptação de espaços para promover a brincadeira, a exploração e a aprendizagem ativa, bem como o desenvolvimento de um guia metodológico. No entanto, o projeto não foi totalmente concluído devido a um ajuste de prioridades por parte dos parceiros envolvidos.
No Panamá, devido aos baixos níveis de qualidade das interações nos centros de atenção infantil, foi implementado um programa de formação para professoras e equipe técnica, também baseado no modelo aeioTU. O conteúdo abordou os principais aspectos para o desenvolvimento infantil, como planejamento educacional, brincadeiras e relacionamento com as famílias, e os módulos teóricopráticos foram criados para promover práticas mais intencionais e gerar ambientes de aprendizagem enriquecidos nos Centros de Atenção Integral à Primeira Infância (CAIPI). O programa ofereceu formação direta a 29 professoras, 10 administradoras e 5 supervisoras que, seguindo uma metodologia de treinamento em cascata, capacitaram educadores de 94 CAIPIs em todo o país.
Na Costa Rica, em resposta à oferta limitada de centros de atenção infantil e seu impacto sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho, foi lançado o Gane Tr3s, um modelo de corresponsabilidade público-privada. A iniciativa promoveu esquemas de copagamento entre empresas, colaboradores e outros atores, ampliando assim o acesso aos serviços de atenção infantil. Além do financiamento compartilhado, foi oferecido apoio técnico aos centros de atenção infantil, fortalecendo suas capacidades pedagógicas e gerenciais por meio de processos de formação. Os resultados dessa experiência, baseados em uma avaliação de indicadores antes e depois da intervenção, inspiraram o projeto de um programa de copagamento em pequenas e médias empresas do país.
As evidências geradas pela implementação e avaliação dos 23 projetos do Fundo DPI geraram lições valiosas para melhorar o atendimento às crianças e suas famílias na ALC. Algumas dessas lições são destacadas abaixo, tanto em relação ao conteúdo dos projetos quanto aos processos envolvidos em sua implementação.
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As modalidades híbridas e remotas provaram ser estratégias úteis para ampliar os serviços de atendimento e atingir populações em contextos desafiadores. Essas modalidades, desenvolvidas para dar continuidade aos serviços durante a pandemia da COVID-19, facilitaram o acesso às famílias localizadas em áreas remotas,
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de difícil acesso ou em situações de emergência e, em alguns casos, foram observados resultados positivos em termos de impacto. Vários projetos relataram mudanças nas práticas parentais, nos comportamentos dos pais e em certos indicadores de desenvolvimento da primeira infância. Por exemplo, a avaliação do Educar con Equidad na Colômbia constatou impactos positivos nas práticas de estimulação e na saúde mental dos cuidadores, bem como melhorias nos comportamentos pró-sociais, na autoconsciência e na aprendizagem cognitiva das crianças. Na Jamaica, a modalidade híbrida RUL contribuiu para o aumento do número de atividades entre cuidadores e crianças, com resultados modestos, mas estatisticamente significativos, nas habilidades motoras finas e no quociente de desenvolvimento. Em várias dessas experiências, o uso de materiais baseados em princípios de economia comportamental parece ter contribuído para a eficácia das intervenções.
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Modalidades inovadoras de prestação de serviços –como remotas, híbridas ou baseadas em grupos– oferecem um potencial promissor para a expansão da cobertura de serviços, mas exigem a consideração de adaptações no projeto e na implementação para contextos diversos. A experiência dos projetos do Fundo DPI indica que, sem um desenho e uma estratégia de implementação adequados ao contexto e focados nas necessidades das populações beneficiárias, eles podem não gerar impactos significativos. Por outro lado, embora essas modalidades permitam um escopo mais amplo e custos de implementação reduzidos, em contextos diversos e altamente vulneráveis, podem ser necessárias intervenções mais intensivas e abrangentes, ou com mecanismos de implementação complementares que ofereçam um apoio mais sustentado aos beneficiários. Por exemplo, no Uruguai, a campanha de mensagens de texto conseguiu aumentar a frequência pré-escolar entre as crianças com níveis moderados de absenteísmo (percentis 25 a 75), mas não gerou mudanças entre aquelas com absenteísmo extremo (percentis 75 a 100). Da mesma forma, no Brasil, o programa PIA –baseado em sessões de grupo para promover a parentalidade não violenta– não apresentou impactos significativos, possivelmente porque não considerou adequadamente as múltiplas adversidades enfrentadas pelas famílias participantes em um contexto de extrema fragilidade.
Intervenções adequadamente direcionadas por faixa etária, inclusive durante a gravidez, geram benefícios para as crianças e suas famílias. Algumas experiências do Fundo DPI sugerem que iniciar as intervenções mais cedo –durante a gestação ou o período neonatal– pode ter efeitos positivos no desenvolvimento da primeira infância. Em Boa Vista, por exemplo, o currículo do RUL foi adaptado para incluir um módulo de apoio durante a gravidez e nas primeiras semanas de vida, o que está associado a uma redução na mortalidade infantil. Por outro lado, a expansão do programa Crianza Positiva no Uruguai, com início no segundo trimestre da gravidez, foi associada a melhorias no bem-estar das gestantes (mais atividades ao ar livre e de autocuidado) e ao aumento do uso da licença paternidade, o que pode refletir um maior envolvimento dos pais na criação dos filhos. Em conjunto, essas experiências sugerem que o acompanhamento precoce das famílias pode ser um fator relevante para favorecer um desenvolvimento infantil mais pleno.
Os diagnósticos e censos sobre populações específicas provaram ser ferramentas valiosas para identificar soluções relevantes adaptadas às necessidades dos grupos-alvo. O Fundo DPI financiou dois exercícios de diagnóstico e coleta de 2
informações que possibilitaram a compreensão de problemas específicos e o desenvolvimento de respostas contextualizadas de acordo com as realidades locais. Essas ferramentas são fundamentais para caracterizar uma situação, identificar lacunas específicas e projetar intervenções específicas, o que contribui para maior eficácia e eficiência no uso dos recursos. Em El Salvador, por exemplo, foram realizados dois censos que forneceram informações sobre a situação das crianças criadas em lares onde um ou ambos os pais estavam ausentes devido à migração. No México, foi realizado um diagnóstico para avaliar a qualidade dos serviços em creches. Ambos os exercícios forneceram informações cruciais para entender os desafios a serem enfrentados e foram a base para o projeto e a implementação de programas criados do zero para atender a essas necessidades particulares: Tuchan em El Salvador e Luciérnaga no México.
O uso de estratégias como cocriação, trabalho colaborativo e ciclos de aprimoramento iterativos ajuda a refinar o desenho e a implementação de projetos. Essas metodologias possibilitaram a coleta sistemática de informações de vários atores –de equipes técnicas a usuários finais– e o ajuste das intervenções de acordo com suas necessidades e experiências. No caso do projeto Luciérnaga, no México, foram implementados três ciclos sucessivos de prototipagem, pilotagem e ajuste fino, o que facilitou o desenvolvimento de uma solução centrada no usuário e adaptada a diferentes níveis de implementação. Essa estratégia também fortaleceu a propriedade do projeto pelas equipes territoriais e sua capacidade de responder às realidades locais. Da mesma forma, na Colômbia, a iniciativa Conectar para Educar desenvolveu uma ferramenta de formação tecnológica que incorporou as contribuições de professoras, agentes educacionais e mães da comunidade, além de equipes técnicas e especialistas. Por meio de um processo iterativo de cocriação e de uma avaliação utilizando metodologias ágeis, chegou-se a uma versão final com maior relevância e usabilidade, adaptada às condições do ambiente e às necessidades daqueles que a utilizam.
Projetos bem-sucedidos dependem não apenas de saber o que fazer, mas também de como fazê-lo: a implementação é um componente central. As avaliações qualitativas e de processo permitem uma melhor compreensão dos mecanismos, o ajuste fino das estratégias de implementação, a identificação de fatores contextuais relevantes e a detecção de detalhes operacionais que podem ser decisivos para a obtenção dos resultados esperados. Na Colômbia, as análises qualitativas e de processo do programa Semillas de Apego identificaram desafios críticos para a ampliação, como a necessidade de adaptar o conteúdo a cada comunidade, aproveitar as redes locais, ter líderes comunitários que se apropriem do programa e garantir a formação contínua para motivar a equipe e reduzir a rotatividade. Da mesma forma, no caso do projeto Educar con Equidad, também na Colômbia, grupos focais com mães da comunidade ajudaram a entender melhor os mecanismos pelos quais as intervenções geraram mudanças, um insumo fundamental para a replicação em outros contextos.
Os projetos do DPI fornecem recomendações práticas e baseadas em evidências para a política do DPI na região. Estamos convencidos de que esse legado contribuirá para políticas mais bem elaboradas e implementadas com mais eficácia.
Contribuições estratégicas do Fundo DPI
O Fundo DPI provou ser um instrumento valioso não apenas para gerar e replicar soluções inovadoras para os vários desafios enfrentados pela primeira infância na ALC, mas também para compartilhar e disseminar conhecimento sobre as políticas e os programas mais eficazes para fechar lacunas no desenvolvimento da primeira infância entre os atores públicos, privados, acadêmicos e da sociedade civil em toda a região, motivando a priorização dessa importante agenda.
Ao chegar ao seu encerramento, vale a pena refletir sobre suas principais contribuições:
Fomento de alianças estratégicas e modelo de financiamento inovador: Fundo DPI tem sido um modelo bem-sucedido de como estruturar alianças estratégicas entre diversos atores –governos, sociedade civil, setor privado e agências multilaterais– em torno de um objetivo comum: fechar as lacunas no acesso a serviços de DPI de qualidade entre as crianças e famílias mais vulneráveis da região e promover o desenvolvimento de todo o seu potencial. É também um modelo de como mobilizar e organizar recursos de diversas fontes, combinando financiamento do BID, de empresas privadas, de organizações não governamentais e de outras entidades.
Soluções com potencial de replicabilidade: por meio do Fundo DPI, foram realizadas oito avaliações-piloto para analisar o efeito no desenvolvimento infantil de intervenções inovadoras, como a prestação de serviços por meio de modalidades híbridas ou remotas, ou para identificar os principais elementos para uma ampliação bem-sucedida. Essas avaliações fornecem novos conhecimentos sobre a replicabilidade e o potencial de ampliação de várias intervenções que podem ser adaptadas a diferentes contextos, contribuindo para o conjunto de soluções para preencher as lacunas do DPI.
Catalisador de políticas públicas: vários projetos do Fundo DPI contribuíram para informar o desenvolvimento de políticas públicas para a primeira infância na região, fortalecendo as intervenções em todas as fases do ciclo de políticas públicas: concepção, implementação e avaliação. Com base nos resultados da avaliação de impacto do programa Educar con Equidad na Colômbia, por exemplo, o ICBF lançou o programa Sanar para Crecer (Curar para Crescer) como parte de sua oferta institucional destinada a promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais na primeira infância. Da mesma forma, no México, o modelo Luciérnaga está sendo expandido nos centros de atenção do IMSS.
Diálogo e compartilhamento de conhecimento: as plataformas de disseminação geradas pelo Fundo DPI são um exemplo de como aprimorar parcerias para fortalecer o diálogo sobre políticas públicas de âmbito regional. Ao gerar uma rede de atores envolvidos no DPI, a COP é um espaço de diálogo no qual os formuladores de políticas, acadêmicos e prestadores de serviços podem compartilhar, nutrir e aprender com os desafios e as oportunidades para obter maior impacto em seus países e organizações em prol das crianças. Além disso, por meio de um repositório de conhecimento gratuito e acessível, o Hub de Conhecimento em DPI oferece uma plataforma única na América Latina e no Caribe para o compartilhamento de conhecimento e a disseminação de programas inovadores.
Geração de espaço para inovação: projetos que utilizam abordagens novas ou tecnologias emergentes podem ser de alto risco devido à incerteza inerente à inovação,
mas o Fundo DPI permite que esses riscos sejam assumidos, pois busca soluções transformadoras em vez de resultados garantidos. Sua estrutura permite investir em projetos-piloto, desenvolver protótipos e tecnologias disruptivas ou metodologias não comprovadas, que podem gerar retornos de longo prazo. A flexibilidade na alocação de recursos também permite ajustes em tempo real à medida que os projetos avançam. Ao permitir investimentos em soluções que ainda não foram comprovadas em larga escala, o DPI assume o risco necessário para promover mudanças positivas e duradouras no desenvolvimento da primeira infância.
Como analisado no capítulo 1.A, evidências internacionais e regionais confirmam que o investimento em DPI é uma das estratégias mais eficazes com os maiores retornos sociais e econômicos para os países, especialmente em contextos de pobreza e vulnerabilidade. Os primeiros anos de vida, incluindo o período pré-natal, são cruciais para o desenvolvimento integral das crianças, e intervenções oportunas e de qualidade podem gerar benefícios sustentáveis para seu bem-estar, aprendizagem e futuro. Além disso, essas políticas não apenas afetam as crianças, mas também contribuem para promover a igualdade de gênero e fortalecer as oportunidades de cuidado e emprego nas comunidades.
Nesse sentido, o Fundo DPI foi um instrumento valioso para desenhar, testar e ampliar soluções inovadoras que atendem às necessidades específicas de crianças e famílias na ALC. Por meio de seus projetos, o Fundo DPI demonstrou que uma visão ampla de inovação –que priorize as pessoas, seja baseada em evidências e colaborativa– é fundamental para desenhar e implementar intervenções eficazes e relevantes. Diagnósticos e censos ajudaram a adaptar as iniciativas às realidades locais; avaliações rigorosas forneceram evidências para refinar e ampliar as intervenções; e parcerias estratégicas fortaleceram a capacidade de ação conjunta.
O Fundo DPI também atuou como um catalisador estratégico para avançar a agenda da primeira infância na ALC. Ao longo de sua trajetória, ele não apenas mobilizou recursos e parcerias com várias partes interessadas, mas também promoveu a geração e a disseminação de conhecimentos essenciais para melhorar a qualidade, o alcance e a eficácia dos serviços para crianças. Por meio de ferramentas como a COP e o Hub de Conhecimento em Desenvolvimento da Primeira Infância, foram lançadas as bases para um ecossistema regional de colaboração, diálogo e aprendizagem contínuo entre governos, universidades, sociedade civil e setor privado. Seu legado demonstra que investir em soluções transformadoras para a primeira infância não é apenas possível, mas também essencial para fechar lacunas e garantir que todas as crianças possam desenvolver todo o seu potencial desde os primeiros anos de vida.
A Comunidade de Prática Comunidade de Prática (COP) em Desenvolvimento da Primeira Infância (DPI) é uma iniciativa que promove uma dinâmica de troca de conhecimento e colaboração entre diferentes setores envolvidos na primeira infância. É uma rede de mais de 200 participantes, incluindo representantes de governos, ONGs e do setor privado, pesquisadores, implementadores e inovadores, tanto regionais quanto globais. Essa multiplicidade de atores permite posicionar as visões da América Latina e do Caribe (ALC) em nível global por meio de reuniões regulares, geração de conteúdo e fortalecimento de redes de conhecimento. Entre 2022 e 2024, foram realizadas 5 sessões da COP, que são descritas a seguir:
Adaptabilidade e inovação: elementos-chave para um atendimento de qualidade à primeira infância (maio de 2022). Co-organizada por todos os parceiros do Fundo DPI, essa reunião foi moderada pela especialista internacional Joan Lombardi, professora adjunta da Stanford Graduate School of Education. Foram apresentadas as lições aprendidas sobre o projeto e a implementação de modalidades virtuais e híbridas em serviços para a primeira infância no Brasil, Equador, Jamaica e Panamá, bem como inovações desenvolvidas no Peru. Acesse aqui a postagem do blog com o resumo.
Cuidados na primeira infância de crianças migrantes: desafios, oportunidades e aprendizados (outubro de 2022). Co-organizado pelo BID e pela Fundação FEMSA, contou com apresentações sobre a situação das crianças migrantes de 0 a 5 anos e suas famílias na ALC por Felipe Muñoz, chefe da Unidade de Migração do BID; Eva Fernández, gerente de Investimento Social na Primeira Infância da Fundação FEMSA; Brenda Campos, Diretora Sênior de Impacto Social da Sesame Workshop na América Latina; Paula Fernanda Rivero Díaz, Oficial Nacional de Prevenção, Desmobilização e Reintegração da Organização Internacional para as Migrações (OIM); e Nancy Ramírez, Diretora de Advocacia da Save the Children México. Acesse aqui a postagem do blog com o resumo.
Construindo pontes entre o conhecimento científico e as políticas públicas para a primeira infância: a experiência do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) no Brasil (maio de 2023). ). Co-organizado pelo BID e pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Porticus e Núcleo Ciência Pela Infância, teve como foco as políticas e questões da primeira infância no Brasil. A reunião contou com a participação de Morgan Doyle, ex-representante do BID no Brasil, e com apresentações de Priscila Costa, diretora de Pesquisa e Inovação do NCPI, e Maria Beatriz Linhares, pesquisadora do Comitê Científico do NCPI. As apresentações foram seguidas de discussões entre os participantes. Acesse aqui a postagem do blog com o resumon.
Transformando descobertas comportamentais em ação (outubro de 2023).
Co-organizado pelo BID e pela Fundação van Leer, o evento incluiu apresentações de Florencia Attademo-Hirt, ex-gerente do Departamento do Cone Sul (BID) e Jesse d'Anjou, representante dos Países Baixos (BID); bem como Sam Sternin, da Fundação van Leer. Também houve apresentações sobre intervenções baseadas em ciência comportamental por Ana Luiza Colagrossi, do programa Familia+ no Brasil; Ana Balsa, da Universidad de Montevideo (Uruguai); e Ivan Budassi e Paula Caccia, da Unidade de Ciência Comportamental do Ministério da Economia da Argentina. Acesse aqui a postagem do blog com o resumo.
Desafiando as desigualdades: fechando as lacunas de desenvolvimento na primeira infância (novembro de 2024). Para comemorar o Dia Internacional da Criança, o BID reuniu líderes da região para discutir os desafios e as ações urgentes necessárias para reduzir as desigualdades enfrentadas pela primeira infância na região. O workshop contou com a participação de Diana Rodríguez Franco, Assessora Especial de Gênero e Diversidade para o Presidente do BID; Mauricio Hernández Ávila, Diretor de Benefícios Econômicos e Sociais do Instituto Mexicano do Seguro Social; Eunice Deras, Diretora Executiva do Instituto Crecer Juntos de El Salvador; David Evans, ex-Assessor Econômico Sênior para o Setor Social do BID; Florencia López Boo, Diretora do Global TIES for Children en la New York University ; e Marta Rubio-Codina, Economista Líder, Especialista em Desenvolvimento Infantil da Divisão de Proteção Social e Mercados de Trabalho do BID. Acesse aqui a postagem do blog com o resumo.
Número da ficha Nome da ficha País
Modalidades híbridas e remotas do Reach Up and Learn (RUL) na Jamaica
Intervenções parentais em Boa Vista: Avaliação de uma modalidade de acompanhamento por meio de sessões individuais e em grupo
Primeira Infância
Acolhida (PIA): um programa de baixo custo para uma parentalidade sem violência em Pelotas, Brasil
Semillas de Apego: Ampliação de um programa de saúde mental materna para promover o desenvolvimento da primeira infância em áreas afetadas por conflitos armados e deslocamento forçado na Colômbia
Infância em Movimento: Modelos de atendimento para crianças migrantes
Jamaica
Educar con Equidad: Promovendo a aprendizagem social e emocional nos primeiros anos de vida na Colômbia
Brasil
Tipo de intervenção
Apoio às famílias
Brasil
Apoio às famílias
Modalidade de entrega
Híbrida e remota
Tipo de avaliação
Impacto e avaliação qualitativa
Presencial: visitas domiciliares e sessões em grupo
Referências e links de interesse*
Smith et al. (2023)
Apoio às famílias
Colômbia Apoio às famílias
Presencial: sessões em grupo
Avaliação de impacto
Brentani et al. (2020)
Avaliação de impacto
Murray et al. (2024)
Presencial: sessões em grupo
Avaliação dos processos e do processo de ampliação
Semillas de Apego
Colômbia Apoio às famílias
Presencial: espaços físicos e ferramentas digitais
Avaliação de processos Repositório do Hub de DPI “Oportunidades significativas de desarrollo y aprendizaje para los niños venezolanos y sus familias
Colômbia Apoio às famílias (em centros)
Híbrida Avaliação de impacto Näslund-Hadley et al. (2024)
Conectar para Educar : Inovação para a educação infantil na Colômbia
Uso da tecnologia para apoiar os pais: Programa de Acompañamiento Familiar remoto no Uruguai
Uso da tecnologia para fortalecer a gestação e a parentalidade positivas no Uruguai: Embarazo Positivo e Crianza Positiva
Crianças criadas pelos avós em El Salvador: Um censo para entender a estrutura das famílias e suas necessidades
Efeito da migração parental no desenvolvimento da primeira infância em El Salvador
Tuchan: Um programa de acompanhamento familiar remoto para fortalecer as práticas parentais em famílias de salto geracional em El Salvador
Empodera tu Mente en Familia: Promovendo uma mentalidade de crescimento em El Salvador
Colômbia Apoio às famílias
Uruguai Apoio às famílias
Uruguay Apoio às famílias
Híbrida Avaliação qualitativa Repositório do Hub de DPI "Conectar para Educar"
El Salvador Apoio às famílias (associado à ficha 12)
Remota Avaliação de impacto
Bloomfield et al. (2025)
Híbrida Avaliação de impacto Balsa et al. (2023)
NA
Diagnóstico Entrada de blog Primeros Pasos "Niños criados por sus abuelos"
El Salvador Apoio às famílias NA
El Salvador Apoio às famílias
Diagnóstico NA
Remota Avaliação de impacto Repositório do Hub de DPI "Tuchan (Nuestro hogar): Niños criados por sus abuelos"
El Salvador Apoio às famílias
Híbrida Avaliação de impacto Ficha de Innovations for Poverty Action "Evaluación del desarrollo de la mentalidad de crecimiento en padres e hijos en El Salvador"
Mensagens com propósito: Como uma campanha digital apoiou o desenvolvimento da primeira infância na Guatemala
Juega Todos los Días: Acompanhamento familiar híbrido para impulsionar o DPI por meio de brincadeiras no México
Fortalecendo os cuidados e o desenvolvimento da primeira infância no México: Uma avaliação dos programas Bebés Más Fuertes e Desarrollo Óptimo en Niños
Frequência e qualidade na educação pré-escolar no Uruguai: Empoderar os pais por meio da informação
Impacto de médio prazo do acesso a creches: evidências experimentais do Rio de Janeiro
Uma visão geral da qualidade dos centros de cuidado infantil e do estado do desenvolvimento da primeira infância no México
Programa de mentorias para promover interações de qualidade entre cuidadores e crianças: Lições aprendidas com o programa Luciérnaga no México
Guatemala Apoio às famílias
México Apoio às famílias
Remota Avaliação de impacto Repositório do Hub de DPI | Childhood First & DON – Desarrollo de la primera infancia durante la pandemia de COVID-19
Híbrida Avaliação de impacto Berlanga et al. (2023)
México Apoio às famílias
Uruguay Atenção em centros
Remota Avaliação de impacto Repositório do Hub de DPI | Estudio regional de educación y salud mental a distancia en Guatemala
Remota Avaliação de impacto Ajzenman et al. (2022)
Brasil Atenção em centros Presencial Avaliação de impacto Carneiro et al. (2021)
México Atenção em centros (associados à ficha 20)
México Atenção em centros
NA
Diagnóstico Rubio-Codina et al. (2021)
Híbrida Avaliação de processos e qualitativa
Ríos-Salas et al. (2024) Programa Luciérnaga
Implementação do modelo educacional aeioTU nos Centros de Atenção Infantil Comunitários (CAIC) do México
Fortalecimento do atendimento à Primeira Infância: Programa de capacitação em Centros de Atenção Integral à Primeira Infância (CAIPI) no Panamá
Gane Tr3s: Corresponsabilidade público-privada para melhorar a qualidade dos centros de atenção infantil e a inserção laboral feminina na Costa Rica
México Atenção em centros
Panamá Atenção em centros
Presencial
Costa Rica Atenção em centros
Presencial
Avaliação qualitativa
Repositório do Hub do DPI "Llevar a escala la red de AeioTU en México"
Presencial
Avaliação qualitativa
Freire et al. (2020)
Avaliação qualitativa
Repositório do Hub de DPI "Gane-GaneGane"
* A coluna de referências e links de interesse inclui, quando disponível, artigos acadêmicos publicados sobre os projetos. Caso contrário, são incluídos links para sites de projetos, postagens em blogs, repositórios do Hub de Conhecimento em Desenvolvimento da Primeira Infância e outros recursos. NA (Não aplicável): refere-se a informações não disponíveis ou que não se aplicam ao tipo de projeto.
O Reach Up and Learn (RUL) é um programa criado para equipar os cuidadores de crianças de 0 a 4 anos de idade em lares vulneráveis com o conhecimento, as habilidades e os recursos necessários para promover seu desenvolvimento. Ele também busca promover a autoestima das crianças e dos próprios cuidadores. O programa consiste em visitas domiciliares de um facilitador, que demonstra ao cuidador principal como realizar várias atividades lúdicas e de linguagem, adequadas à idade e ao nível de desenvolvimento da criança e organizadas em um currículo estruturado. Os materiais usados incluem brinquedos caseiros de baixo custo, livros ilustrados e fichas para promover conversas, entre outros. O RUL baseia-se na conhecida intervenção de visita domiciliar desenvolvida na Jamaica e adaptada e avaliada em outros países (GranthamMcGregor e Smith, 2016 ; Jervis et al., 2023). Sua implementação original na Jamaica demonstrou que os impactos de curto prazo no desenvolvimento cognitivo e de linguagem (GranthamMcGregor et al., 1991) persistem na vida adulta (Walker et al., 2011; 2022) e se traduzem em melhor desempenho acadêmico e ocupacional, incluindo salários mais altos (Gertler et al., 2021) Em 2019, o Ministério da Saúde e Bem-Estar da Jamaica iniciou a implementação da RUL por meio de centros de atenção primária à saúde, com o objetivo de atingir progressivamente todos os distritos do país. Em março de 2020, ele estava sendo implementado em 6 dos 14 distritos.
Com a pandemia da COVID-19, o programa teve de ser suspenso e, a partir de setembro de 2020, adotou uma modalidade remota: as visitas domiciliares quinzenais foram substituídas por ligações telefônicas quinzenais dos facilitadores e mensagens de texto semanais para reforçar o conteúdo transmitido durante as ligações. Além disso, um Manual para os Pais (BID, 2020a) foi desenvolvido para ser usado pelo cuidador para orientar as ligações. O manual oferece atividades lúdicas e de linguagem organizadas por grupos etários de três meses, priorizando aquelas do currículo básico do RUL, que requerem pouco ou nenhum material e podem ser realizadas como parte das rotinas domésticas (Rubio-Codina e Lopez Boo, 2022). A avaliação da modalidade remota mostrou uma boa aceitação entre os cuidadores e facilitadores –embora tenha faltado o contato presencial– e um aumento de 0,34 desvios-padrão (DP) nas atividades lúdicas entre cuidador e criança 5 , medido com os Family Care Indicators (FCI) a partir de informações relatadas pelo cuidador (Smith et al., 2023)
Em 2022, o Ministério da Saúde e Bem-Estar, em colaboração com a University of the West Indies, desenvolveu e implementou um modelo híbrido que combinava visitas presenciais e sessões
5 Os DP medem a dispersão dos valores de dados em uma distribuição em relação à média. Embora um DP possa ser uma unidade não intuitiva de medição de impacto, seu uso permite a comparação do tamanho relativo dos impactos em diferentes estudos ou populações. Por exemplo, o tamanho do efeito da intervenção original de visita domiciliar na Jamaica (Grantham-McGregor et al., 1991) é pelo menos três vezes maior do que o de qualquer implementação subsequente da RUL ou de intervenções semelhantes na ALC.
remotas. Os facilitadores alternavam ligações telefônicas quinzenais com reuniões em casa, onde entregavam materiais para a sessão remota. Os cuidadores também receberam o Manual para os Pais e mensagens de texto semanais para reforço. A intervenção foi implementada em municípios de 12 dos 14 distritos da Jamaica (3 urbanos e 9 rurais).
Uma avaliação de impacto comparou o desenvolvimento de 237 crianças designadas aleatoriamente para um grupo de tratamento com 254 crianças no grupo de controle. Além disso, foi realizado um estudo qualitativo com 25 cuidadores, 29 facilitadores e 13 enfermeiros para obter uma classificação da modalidade híbrida.
De acordo com um relatório preliminar, a modalidade híbrida apresentou benefícios modestos, mas significativos, no quociente de desenvolvimento (0,17 DP) e nas habilidades motoras finas (0,20 DP), conforme medido pela Griffith Scales of Mental Development. 6 Também apresentou melhorias no ambiente doméstico (0,27 DP) –entendido como a qualidade e a quantidade de estímulo e apoio que uma criança recebe em seu contexto familiar e medido pela Home Observation for Measurement of the Environment (HOME)— e nas práticas parentais dos cuidadores (0,18 DP), medidas por meio dos FCI. Esses resultados são encorajadores, pois sugerem que, ao alavancar os recursos e as capacidades do sistema de saúde, as modalidades híbridas permitem a ampliação eficaz dos programas que trabalham com famílias.
A avaliação destacou vários desafios na implementação, incluindo o acompanhamento inconsistente aos facilitadores, lacunas na capacitação devido à rotatividade de pessoal e menos contatos com as famílias do que o planejado. Outro aspecto relevante é que, embora o custo do programa híbrido (US$ 245) seja semelhante ao do programa presencial, os impactos em áreas comparáveis foram notavelmente menores (habilidades motoras finas: 0,17 vs. 0,27 DP e ambiente doméstico: 0,27 vs. 0,37 DP).7
6 O quociente de desenvolvimento no teste Griffith é um análogo ao quociente de inteligência (QI) ou índice de desenvolvimento mental.
7 Para calcular os custos do programa, foram usados os salários por hora dos facilitadores. Estimou-se que as visitas domiciliares durassem uma hora, mais 30 minutos de tempo de deslocamento por visita. As ligações telefônicas duram aproximadamente 30 minutos e não exigem deslocamento. A mesma proporção de facilitador/cuidador foi mantida para ambas as modalidades. Embora as visitas presenciais envolvam custos mais altos devido ao tempo de trabalho, eles são compensados pelos custos adicionais de ligações, mensagens de texto e manuais no componente remoto da modalidade híbrida.
Avaliação de uma modalidade de acompanhamento por meio de sessões individuais e em grupo
Apesar do progresso na redução da mortalidade infantil nos últimos 25 anos, a saúde neonatal e a desnutrição –fatores intimamente ligados à pobreza infantil– continuam sendo desafios críticos na América Latina e no Caribe. Em 2021, a taxa de mortalidade de menores de cinco anos na região foi de 12,9 por 1.000 nascidos vivos, e no Brasil subiu para 15,5 por 1.000 (OPAS, 2024). De acordo com os dados da Pesquisa Nacional sobre Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), a maior prevalência de desnutrição é encontrada em crianças de 0 a 11 meses (9%) e de 12 a 23 meses (10,2%). O atraso no crescimento também é maior no grupo de 0 a 11 meses (5%) em comparação com outros menores de 5 anos (3%) (de Albuquerque et al., 2024)
O estado de Roraima, no noroeste do Brasil, não é exceção. Apesar do progresso entre 2019 e 2023, os níveis de pobreza de crianças e adolescentes permanecem alarmantemente altos e acima da média nacional 8 (UNICEF, 2025). Crescer em contextos de pobreza, desnutrição, saúde precária e ambientes pouco estimulantes tem efeitos prejudiciais e duradouros no desenvolvimento cognitivo, motor e socioemocional (Walker et al., 2007). Por sua vez, as crianças que enfrentam essas condições têm maior probabilidade de ter um desempenho ruim na escola e de obter rendas mais baixas na idade adulta, contribuindo para a transmissão intergeracional da pobreza.
Entre 2017 e 2021, o programa Sobreviver e Prosperar S&T por seu nome em inglês Survive and Thrive— foi implementado em Boa Vista, capital de Roraima, com o objetivo de reduzir a mortalidade infantil e melhorar o desenvolvimento de crianças de 0 a 36 meses. O programa baseou-se na adaptação do currículo Reach Up and Learn (RUL) para o contexto brasileiro (consulte a Ficha 1) e foi implementado em duas modalidades: visitas domiciliares e sessões de grupo com 6 a 10 duplas de cuidadores-crianças em os Centros Referência de Assistência Social (CRAS). Foram criados e adaptados brinquedos para a realidade local, que foram deixados com as famílias para continuar promovendo a interação entre as sessões. Ambas as modalidades foram realizadas por assistentes sociais.
O S&T introduziu duas inovações importantes em relação à versão original do RUL. Primeiro, o projeto de uma modalidade de grupo com potencial de escalabilidade do serviço. Nesse formato, cada facilitador pode acompanhar até 240 cuidadores por quinzena, em comparação com os 40 participantes atendidos por meio de visitas domiciliares individuais no mesmo período. Em segundo lugar, o S&T incorporou um módulo específico voltado para mulheres a partir do segundo trimestre de gravidez, abrangendo tópicos como amamentação, vínculo precoce de apego e saúde mental materna.
8 O indicador de pobreza multidimensional entre crianças e adolescentes no Brasil diminuiu de 59,5% em 2019 para 55,9% em 2023.
Para medir o impacto das duas modalidades de implementação, foi empregado um projeto em fases no qual 42 bairros com altos níveis de pobreza e vulnerabilidade foram designados aleatoriamente para receber visitas domiciliares ou sessões de grupo no CRAS em anos sucessivos (ano 1, ano 2, ano 3). Em cada fase, as mulheres dos bairros que ainda não haviam sido designadas para um grupo de tratamento serviram como grupo de controle. Para participar, as mulheres dos 42 bairros da amostra do estudo tinham de atender a pelo menos uma das seguintes condições: (i) ser mães antes dos 20 anos de idade, (ii) ser vítimas de violência doméstica, (iii) ser beneficiárias do programa de transferência social Bolsa Família ou (iv) pertencer a uma família com renda inferior a um quarto do salário mínimo nacional.
A avaliação de impacto, baseada em registros administrativos e medidas de desenvolvimento infantil, produziu resultados mistos. Para a sobrevivência infantil, foram usados o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Para o desenvolvimento infantil, foram utilizados o Caregiver Reported Early Development Index (CREDI) e o Proyecto Regional de Indicadores de Desarrollo Infantil (PRIDI). A modalidade de visita domiciliar mostrou efeitos positivos no desenvolvimento infantil de 0,3 DP, de acordo com o PRIDI, e uma redução significativa na mortalidade neonatal, com uma taxa de risco de 0,57 em comparação com o grupo de controle (1,00).
Em contrapartida, a modalidade de sessão em grupo não apresentou impactos significativos no desenvolvimento infantil ou na sobrevivência neonatal. Avaliações qualitativas sugerem que isso pode ser atribuído a barreiras na implementação, como altas taxas de desistência e dificuldades em manter pequenos grupos de cuidadores por facilitador, um fator essencial para garantir interações eficazes. Apenas 12% dos cuidadores participaram de mais de cinco sessões e menos de 5% participaram de mais de dez. As informações qualitativas coletadas em entrevistas com os participantes sugerem que os custos de transporte para chegar aos centros explicam em grande parte o alto índice de desistência.
Um programa de baixo custo para uma parentalidade sem violência em Pelotas, Brasil
A exposição persistente à agressão durante a primeira infância é um importante indicador de comportamento violento em etapas posteriores da vida (Moffitt, 2018; Murray et al., 2018). De acordo com as estimativas do UNICEF (2017), 300 milhões de crianças de 2 a 4 anos de idade em todo o mundo são vítimas de práticas parentais violentas por parte de seus cuidadores primários. Em média, 56% das crianças em uma seleção de cinco países da ALC são regularmente expostas a disciplina física e/ou psicológica violenta 9 (BID, 2024).
Estudos recentes sugerem que os programas de apoio familiar que ajudam os cuidadores a identificar e modificar esses comportamentos prejudiciais podem gerar benefícios substanciais para o desenvolvimento infantil (Jeong et al., 2021). No entanto, a maioria das evidências vem principalmente de países de alta renda, com orçamentos muito grandes para serem replicados em contextos regionais (Mejia et al., 2017)
A partir de 2018, na cidade de Pelotas (estado do Rio Grande do Sul, Brasil), foi implementada a Iniciativa Primeira Infância Acolhida (PIA), resultado de uma parceria entre o governo municipal, o BID, a Fundação Maria Vidigal Souto, a Fundação FEMSA e pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e do Instituto Cidade Segura. O objetivo era gerar evidências sobre a eficácia de duas intervenções separadas de curta duração e custo relativamente baixo (por serem em grupos), criadas para ajudar os cuidadores a eliminar práticas parentais violentas e agressivas e reduzir os comportamentos agressivos das crianças.
A primeira intervenção, Dialogic Book-Sharing (DBS), promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022), busca promover a interação entre o cuidador e a criança e a sensibilidade e capacidade de resposta do cuidador às necessidades da criança. Foca-se na partilha de livros ilustrados em sessões de grupo semanais durante oito semanas, nas quais o cuidador interage com a criança e recebe feedback do tutor. Para essa última função, os trabalhadores comunitários foram capacitados por meio de orientação com mentores formados na metodologia.
A segunda intervenção, ACT Raising Safe Kids, consiste em nove sessões de grupo semanais apenas para os cuidadores (sem a presença de crianças), nas quais eles recebem informações sobre os estágios do desenvolvimento infantil e estratégias de gerenciamento emocional, técnicas de comunicação positiva e solução de problemas. As sessões foram conduzidas por duplas de facilitadores com formação mínima universitária em áreas afins (psicologia, psicopedagogia, etc.), treinados por uma equipe certificada.
9 O cálculo inclui Argentina (2019-2020), Equador (2018), Honduras (2019), México (2021) e República Dominicana (2019).
Um total de 369 crianças e seus principais cuidadores, provenientes de famílias urbanas de baixa renda com uma forte presença de práticas parentais violentas participaram do programa. Um total de 124 cuidadores foi aleatoriamente designado para o programa DBS, 123 para o ACT e 122 para o grupo de controle. Os impactos das intervenções foram medidos em curto prazo (8 meses após a intervenção) e em médio prazo (3 a 4 anos após a intervenção).
As avaliações mostraram que nenhuma das intervenções –DBS ou ACT– teve efeitos significativos na redução dos comportamentos agressivos das crianças, seja a curto ou médio prazo, conforme medido pelas subescalas de agressão do Childhood Behavioral Checklist (CBCL) e pelo questionário de comportamentos agressivos do Étude Longitudinale du Développement des Enfants du Québec (ELDEQ). Também não houve mudanças nos problemas comportamentais (por exemplo, hiperatividade, comportamentos pró-sociais), conforme avaliado pelo Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ), nem no desenvolvimento da linguagem, conforme medido pela Avaliação de Vocabulário Expressivo e Receptivo no Brasil. Da mesma forma, não foram observados efeitos sobre práticas parentais violentas10 ou indicadores de estresse do cuidador, conforme medido por dois questionários desenvolvidos pelos pesquisadores e análise de cortisol em amostras de cabelo (Murray et al., 2024; relatório interno preliminar).
Os pesquisadores do estudo interpretam que o contexto de extrema vulnerabilidade dos beneficiários poderia explicar a falta de impactos do programa. Portanto, eles sugerem a implementação de intervenções mais abrangentes que abordem aspectos estruturais –como acesso a serviços básicos, nutrição, saúde e educação– juntamente com intervenções destinadas a reduzir a violência doméstica, como as incluídas no programa PIA.
10 As práticas parentais –tanto positivas quanto severas– foram avaliadas por meio de questionários preenchidos pelos cuidadores, filmagens de interações entre pais e filhos durante tarefas estruturadas e de brincadeiras livres e atividades de leitura compartilhada entre cuidador e filho.
Semillas de Apego: Ampliação de um programa de saúde mental materna para promover o desenvolvimento da primeira infância em áreas afetadas por conflitos armados e deslocamento
O bem-estar e a saúde mental das mães, dos pais e de outros cuidadores em casa são fundamentais para o desenvolvimento infantil (Evans et al., 2021; Lieberman et al., 2011). A exposição a conflitos armados e o deslocamento forçado podem ter consequências graves para a saúde mental e o desenvolvimento das crianças. Um ambiente carinhoso e sensível pode atuar como um escudo protetor contra o estresse tóxico e criar condições para um estresse tolerável. Entretanto, poucas iniciativas abordaram esses aspectos de forma estruturada. Na Colômbia, até o final de 2023, 8,6 milhões de pessoas haviam sido deslocadas internamente por conflitos armados, representando 18% da população nacional, o maior número de pessoas deslocadas internamente em todo o mundo (Unidad para las víctimas, 2024).
O Semillas de Apego surge como uma resposta a essa necessidade, oferecendo um modelo comunitário de apoio psicossocial para mães, pais e outros cuidadores domésticos de crianças de 0 a 5 anos em contextos de conflito, violência e deslocamento forçado. O programa oferece um espaço para reflexão e ferramentas para processar essas experiências, fortalecer a regulação emocional e reconhecer as capacidades pessoais de resiliência. O currículo foi desenvolvido por especialistas da Universidad de los Andes em parceria com o Child Trauma Research Program da University of California San Francisco (UCSF) e adaptado ao contexto colombiano a partir de dois de seus programas: Child-Parent-Psycotherapy (Lieberman et al., 2005) e Building Bridges (Reyes e Lieberman, 2012). Ambos foram adaptados de entrevistas semiestruturadas e grupos focais com mulheres deslocadas, bem como com equipes da Unidade de Vítimas, do Ministério da Saúde e Proteção Social e da Prefeitura de Bogotá.
A iniciativa consiste em 15 sessões semanais de uma hora e meia, com grupos de 15 participantes, conduzidas por duas facilitadoras comunitárias. O programa não busca apenas melhorar a saúde mental materna como um fim em si mesmo, mas é concebido como um mecanismo fundamental para fortalecer os vínculos emocionais e, assim, promover o desenvolvimento infantil. A abordagem reconhece a necessidade de interromper a transmissão intergeracional de trauma e pobreza, problemas exacerbados pela violência prolongada, pelo desenraizamento e pela instabilidade social.
Entre 2018 e 2022, o programa foi implementado e avaliado em Tumaco (Nariño), um dos municípios mais afetados pelo conflito armado. Para medir seu impacto, foi realizado um estudo controlado e randomizado com 1.372 mães, pais e outros cuidadores de crianças de 2 a 5 anos de idade que frequentavam 18 centros de desenvolvimento infantil (CDI) na área urbana. Metade dos CDI foi designada para um grupo de tratamento –no qual os cuidadores primários foram convidados a participar do Semillas de Apego além dos serviços habituais– e a outra metade para um grupo
de controle, que recebeu apenas os serviços habituais. Oito meses após o início do programa, foram observadas melhorias significativas nos indicadores de saúde mental materno-infantil e de desenvolvimento infantil, especialmente entre os participantes que estavam deslocados ou que apresentavam sintomas de saúde mental mais graves no início da intervenção (Moya et al. 2024).
Para avaliar seu potencial de ampliação, em 2022 o Fundo DPI apoiou um estudo de métodos mistos para identificar fatores que poderiam influenciar a expansão do programa e seu impacto em outros contextos. A análise qualitativa baseou-se em entrevistas semiestruturadas com 24 membros da equipe de implementação –tanto da equipe técnica quanto do parceiro operacional– para identificar desafios relacionados à fidelidade, aceitabilidade, relevância e viabilidade do programa.
A análise quantitativa baseou-se em indicadores de presença, envolvimento dos participantes e fidelidade e qualidade das sessões, coletados como parte do processo de monitoramento de rotina. O programa foi implementado em quatro municípios (Barranquilla, Soledad, Jamundí e Tumaco), atingindo 894 famílias em duas coortes por município. A implementação foi realizada de forma piramidal: a adaptação, a direção e a supervisão ficaram a cargo das equipes da Universidad de los Andes e da UCSF, enquanto a gestão operacional foi assumida pela Heartland Alliance International. O envolvimento desse parceiro operacional permitiu uma avaliação do processo de transferência de capacidades para um terceiro e dos desafios associados à implementação em larga escala.
O processo de ampliação enfrentou vários desafios. Um dos principais foi adaptar o programa a comunidades com características sociodemográficas e culturais diferentes das de Tumaco e garantir a aceitação, o que exigiu ajustes na implementação.
Outro obstáculo foi a infraestrutura local. A escassez de espaços adequados e a ausência de redes locais dificultaram a implementação. Para superar isso, foram estabelecidas parcerias com operadores locais e líderes comunitários, o que facilitou o acesso a espaços seguros e incentivou a participação da comunidade.
A rotatividade da equipe também foi um desafio. A alta mobilidade dos facilitadores e a sobrecarga administrativa afetaram a continuidade e a capacitação. Para atenuar esse problema, foi criado um esquema de aprendizes em que os participantes de grupos anteriores assumiram funções de supervisão, fortalecendo assim o componente comunitário e garantindo a sustentabilidade do modelo.
O monitoramento e a avaliação enfrentaram dificuldades devido à ausência de um sistema de dados em tempo real, o que limitou o acompanhamento da implementação. Além disso, alguns indicadores autorrelatados foram influenciados pelas expectativas dos participantes.
As lições aprendidas com essa experiência destacam a importância do planejamento contextualizado, da capacitação e acompanhamento contínuos para motivar e reter a equipe e de um sistema de monitoramento sólido como condições para garantir a eficácia e a sustentabilidade dos programas de saúde mental materna e desenvolvimento infantil em contextos altamente vulneráveis.
A crise humanitária na Venezuela gerou um fluxo migratório sem precedentes. Em 2024, estima-se que 2,8 milhões de venezuelanos residiam na Colômbia, 25% dos quais eram crianças e adolescentes (Ministerio de Relaciones Exteriores de Colombia, 2024). Nesse grupo, os chamados caminantes –famílias de migrantes que percorrem longas distâncias a pé em condições extremamente vulneráveis– enfrentam desnutrição, estresse tóxico, violência e privação econômica, o que afeta diretamente o desenvolvimento infantil.
Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento cognitivo e emocional, mas os serviços disponíveis ao longo da rota migratória geralmente são projetados para adultos, sem considerar as necessidades específicas da primeira infância (UNICEF, 2023). Não há serviços destinados a promover a estimulação precoce ou a facilitar o acesso a serviços essenciais para crianças em trânsito.
Para resolver essa lacuna, o BID –juntamente com a Agência Presidencial de Cooperação Internacional da Colômbia (APC-Colômbia) e o UNICEF– promoveu um projeto destinado a oferecer espaços de aprendizagens seguros e apoio abrangente a crianças migrantes e suas famílias.
A estratégia de atendimento combinou Espaços Amigos da Infância (EAI) em pontos estratégicos ao longo da rota de migração com o uso de ferramentas digitais para apoiar famílias em trânsito com crianças de 0 a 5 anos de idade. Os EAI proporcionaram um ambiente seguro onde as crianças receberam estimulação precoce, acompanhamento psicossocial e materiais pedagógicos projetados para promover seu desenvolvimento. Esses espaços contavam com equipes capacitadas que identificavam as necessidades e promoviam o fortalecimento das habilidades socioemocionais das crianças e de seus cuidadores (UNICEF, 2023).
Paralelamente, foi elaborado e distribuído um Kit de Apoyo al Desarrollo Infantil, com materiais pedagógicos e ferramentas de autocuidado para os cuidadores. Além disso, foi desenvolvida uma plataforma digital com conteúdo interativo sobre parentalidade e estimulação precoce, facilitando o acesso a informações importantes para famílias migrantes em trânsito.
O projeto estabeleceu seis EAI fixos e 28 móveis, bem como sete unidades móveis (Chiquivans), o que possibilitou atender às famílias em deslocamento ativo. No total, o projeto beneficiou 15.000 crianças migrantes e 30.000 cuidadores, incluindo mães grávidas e lactantes. Embora a maioria dos beneficiários atendidos fosse de origem venezuelana, os serviços também alcançaram crianças de outras nacionalidades, principalmente colombianos que retornaram e outras populações migrantes em trânsito.
O projeto forneceu lições importantes para futuras intervenções em contextos migratórios. A combinação de espaços físicos com ferramentas digitais ampliou o alcance e a eficácia da estratégia. Além disso, a adaptação dos materiais às condições de mobilidade dos migrantes foi fundamental para garantir sua utilidade. No entanto, foi identificada a necessidade de fortalecer a articulação com atores locais e nacionais para garantir a sustentabilidade desse tipo de modelo (UNICEF, 2023).
As habilidades socioemocionais –como empatia, trabalho em equipe, definição de metas e gerenciamento emocional– são amplamente definidas durante a primeira infância e são fundamentais para o desempenho educacional, a saúde mental e o trabalho. Na Colômbia, essas habilidades são vistas como determinantes do sucesso escolar e da integração no trabalho (Cunningham et al., 2016). Entretanto, seu desenvolvimento pode ser comprometido pela exposição prolongada a contextos de violência, como conflitos armados, gangues e grupos do crime organizado, especialmente quando combinados com a ausência de laços emocionais saudáveis. Essa combinação se traduz em estresse tóxico (Center on the Developing Child, 2018), que afeta a saúde mental, a arquitetura cerebral e o desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças, com repercussões duradouras no acúmulo de capital humano (Currie e Stabile, 2006; Heckman, 2006).
Para abordar essa questão, o Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF) apoiou a implementação do Educar con Equidad, uma adaptação do Think Equal, um programa desenvolvido por especialistas em educação, psicologia, direitos humanos e neurociência –em colaboração com o Yale Center for Emotional Intelligence (YCEI)– e implementado em mais de 13 países. O Think Equal é voltado para cuidadores de crianças de 3 a 6 anos e promove habilidades como empatia, resiliência, autorregulação, autoconsciência, pensamento crítico, comportamentos pró-sociais e resolução pacífica de problemas, a fim de promover a equidade, a empatia e o bem-estar desde os primeiros anos de vida (Think Equal, 2018).
O currículo do programa é baseado no Modelo de Narrativa Coletiva, que se parte das histórias individuais das crianças para cultivar, por meio da aprendizagem colaborativa, uma narrativa de grupo positiva e esperançosa. O programa é organizado em três níveis, cada um com 22-24 livros de figuras, 90 planos de aula e materiais associados. Ele é ministrado durante 30 semanas, cada uma começando com um livro e três planos de aula de 30 minutos.
Na Colômbia, o Educar con Equidad foi implementado nos Hogares Comunitarios de Bienestar (HCB), espaços apropriados para cuidar de crianças nas casas das chamadas "mães comunitárias", localizados em Antioquia, Bolívar, Córdoba, Magdalena e Sucre, regiões historicamente afetadas pelo conflito armado ou pela presença de gangues e grupos criminosos. A Fundação Escuela Nueva foi responsável pela revisão exaustiva dos materiais para a contextualização linguística e cultural do programa à realidade local. Além disso, durante a pandemia da COVID-19, o desenho original foi transformado em um modelo híbrido, que alternava instâncias presenciais-nos HCB e remotas. Essa modalidade incluiu a entrega de materiais digitais por meio de mães comunitárias e o envolvimento dos cuidadores em sua implementação. O material digital semanal incluía: a) um audiolivro para as crianças, b) áudios de suporte para as atividades dos cuidadores, e c) infográficos, também para os cuidadores.
O impacto do projeto foi medido por meio de um desenho experimental, com a atribuição aleatória de 181 centros para o grupo de tratamento e 182 para o grupo de controle, atingindo 1.471 crianças e 1.222 cuidadores primários.
A avaliação de impacto mostrou efeitos positivos no aprendizado cognitivo das crianças (0,15 DP) –medido com o Caregiver Reported Early Development Instrument (CREDI)–, comportamentos prósociais (0,14 DP) –medido com o Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ)– e autoconsciência (0,13 DP) –medido e classificado com o protocolo de pesquisa Measuring Early Learning Quality and Outcomes (MELQO)– (Näslund-Hadley et al., 2024). }
A intervenção também teve um impacto positivo entre as mães comunitárias, que melhoraram seu nível de empatia (0,25 DP) –medido com o Emotional Intelligence Index (EII)– e suas práticas pedagógicas (0,27 DP), avaliadas com base em um índice construído a partir de perguntas sobre suas habilidades de comunicação, apoio emocional, discussão de emoções e atividades de leitura com as crianças. Os cuidadores também apresentaram melhorias em suas práticas parentais (0,36 DP), conforme medido pelos Family Care Indicators (FCI), e reduziram os sintomas negativos de saúde mental (-0,14 DP), assim como as mães comunitárias ( -0,22), de acordo com o questionário PULSO do Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE) da Colômbia.
A avaliação qualitativa do programa, baseada em grupos focais, sugere que o envolvimento dos cuidadores nas atividades e o fortalecimento significativo de seu relacionamento com as mães da comunidade foram cruciais para os resultados positivos do programa.
Garantir uma educação infantil de qualidade é sempre um desafio, especialmente em contextos em que o contato presencial com as crianças e suas famílias é limitado. Dados de cinco países da região –Argentina, Equador, Honduras, México e República Dominicana– mostram que as crianças de áreas rurais crescem em ambientes menos estimulantes, com menos acesso a livros infantis e atividades de aprendizagem (BID, 2024). Essas diferenças na qualidade do ambiente doméstico determinam os níveis de DPI. Por exemplo, dados comparáveis do Equador e do México mostram lacunas significativas no desenvolvimento da linguagem entre crianças rurais e urbanas, variando de menos de dois meses de atraso aos 2 anos de idade a mais de 16 meses de atraso aos 5 anos de idade (BID, 2024). É provável que essas diferenças reflitam atrasos em outras áreas do desenvolvimento, já que a linguagem é um bom indicador do desenvolvimento da primeira infância como um todo (Rubio-Codina et al., 2016). A pandemia da COVID-19 destacou e aprofundou a necessidade de fortalecer os processos pedagógicos em ambientes com baixa conexão e de melhorar a formação do pessoal responsável pela educação infantil.
Para responder a esses desafios, a Assessoria Presidencial para Crianças e Adolescentes, o Ministério da Educação Nacional (MEN), o Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF) e o BID desenvolveram a iniciativa Conectar para Educar. Essa articulação intersetorial permitiu uma estrutura mais sólida graças à colaboração entre equipes técnicas territoriais de diferentes entidades governamentais e especialistas em educação.
A Conectar para Educar combina um modelo pedagógico multimodal com uma ferramenta tecnológica para melhorar a formação de talentos humanos na educação infantil, fortalecer as interações familiares e facilitar o acesso a recursos educacionais de forma flexível e acessível.
A estratégia multimodal utiliza uma variedade de canais de comunicação -WhatsApp, rádio, pôsteres e materiais impressos- para levar às famílias atividades e recursos que promovam o desenvolvimento infantil em casa. Por meio de um processo participativo com as comunidades, o conteúdo é adaptado aos contextos locais, garantindo sua relevância e aplicabilidade.
A ferramenta de treinamento tecnológico –co-desenhada com professores, agentes educacionais e mães da comunidade– foi desenvolvida em vários ciclos de prototipagem-pilotagem-ajuste e oferece treinamento flexível por meio de microaprendizagem, eventos on-line, cursos de formação e acesso a um banco de recursos educacionais. Esse desenho participativo possibilitou validar sua relevância e melhorar sua usabilidade.
Posteriormente, entre março e setembro de 2022, foi realizado um piloto com 125 agentes educacionais em cinco municípios rurais da Colômbia, com o objetivo de avaliar a eficácia da Conectar para Educar e sua estratégia de implementação no território. Por meio de dois ciclos iterativos de prototipagem-piloto-ajuste, o desenho do programa foi validado e os principais aprendizados foram identificados.
A análise do primeiro ciclo de validação do piloto permitiu definir a teoria de mudança do programa, estabelecendo a relação entre as atividades desenvolvidas e os resultados esperados e identificando os fatores que influenciam sua implementação. Por meio de entrevistas e testes cognitivos, foi estudada a experiência do usuário, analisando os pontos de satisfação e as dificuldades do talento humano –professores, agentes educacionais e mães comunitárias– em sua interação com a ferramenta tecnológica.
Com base nessas descobertas, foram feitos ajustes na estrutura, no conteúdo e na acessibilidade da plataforma. Foi identificada a necessidade de melhorar o feedback aos usuários, fortalecer suas habilidades tecnológicas e simplificar a linguagem das atividades para facilitar a compreensão. O piloto também identificou diferentes estratégias para levar a Conectar para Educar às equipes no território, a partir da estrutura de prestação específica no local do MEN e do ICBF.
As intervenções que apoiam as famílias e promovem as habilidades parentais –como os programas de visitas domiciliares– demonstraram ser bem-sucedidas em diversos contextos quando implementadas em pequena e média escala (Leer et al., 2016). Entretanto, implementálas em larga escala de forma econômica é um desafio. Uma estratégia para aumentar sua escalabilidade tem sido a incorporação de tecnologias –como chamadas telefônicas, mensagens de texto, chatbots– que permitem a padronização da prestação de serviços a um número maior de beneficiários sem um aumento significativo nos custos. Apesar de seu potencial, o impacto do uso de recursos tecnológicos fornecidos remotamente tem sido, em alguns casos, menos significativo e duradouro do que o esperado (Balsa et al., 2022)
No início da pandemia da COVID-19, o Programa de Acompañamiento Familiar (PAF) do Ministério do Desenvolvimento Social do Uruguai (MIDES), que consiste em visitas domiciliares para pais de crianças vulneráveis de 0 a 3 anos, teve de ser suspenso devido a restrições sanitárias. Por sua vez, a demanda pelo serviço superava a capacidade de provisão do programa. Para enfrentar ambos os desafios, o MIDES, em colaboração com um grupo interdisciplinar de psicólogos, fonoaudiólogos e economistas comportamentais, desenhou um serviço de teleatendimento –o PAF remoto– para garantir a continuidade do programa durante a pandemia e, ao mesmo tempo, estender o atendimento às famílias na lista de espera.
O programa consiste em dois módulos temáticos de quatro meses cada. O primeiro módulo fornece diretrizes gerais para os pais, abrangendo tópicos como saúde, nutrição, proteção, estimulação e autocuidado do cuidador. Ele também fornece informações personalizadas sobre os programas sociais disponíveis e como acessá-los. O segundo módulo inclui atividades e diretrizes para apoiar o desenvolvimento da linguagem das crianças.
A principal inovação da intervenção está na integração de várias tecnologias para sua implementação. Ela inclui ligações semanais feitas pelos operadores de teleatendimento do MIDES, mensagens de texto personalizadas enviadas três vezes por semana via WhatsApp (adaptadas à idade, ao sexo e ao nome da criança e do cuidador), um chatbot do WhatsApp que fornece informações gerais e facilita a comunicação entre a equipe de pesquisa e as famílias, e uma ferramenta de inteligência artificial (IA) que decodifica as mensagens de voz do WhatsApp e fornece feedback sobre as tarefas realizadas com a criança. A cada duas semanas, as famílias são solicitadas a enviar uma gravação de voz das interações entre o cuidador e a criança.
A inclusão das famílias no programa foi feita de forma aleatória entre as 1.360 que manifestaram interesse em participar. Dessas, 851 foram designadas para o grupo de tratamento (PAF remoto) e 509 para o grupo de controle.
O programa teve uma grande aceitação. Noventa por cento das famílias acharam o chatbot útil para acessar informações sobre práticas parentais e estimulação da linguagem, e 75% o usaram para se informar sobre serviços locais (centros de saúde, de atenção infantil. etc.) (Bloomfield et al., 2025). Os teleoperadores também valorizaram a ferramenta, destacando sua utilidade para facilitar a comunicação e alcançar áreas rurais.
Após quatro meses de implementação, foi observado um aumento significativo no acesso a benefícios sociais (0,30 DP) e programas de trabalho (0,23 DP) entre as famílias tratadas. Aos oito meses, a intervenção mostrou melhorias nos cuidados e no bem-estar: maior envolvimento dos pais na criação dos filhos (0,19 DP, medido pelo índice StimQ), maior conhecimento da estimulação da linguagem (0,15 DP, medido por perguntas de autorrelato dos pais), redução do estresse dos pais (0,19 DP, de acordo com o Parenting Stress Index) e aumento do bem-estar do cuidador (0,16 DP). Esse último foi medido por meio de um índice que agrega o risco de depressão da escala CESD10, a pontuação associada ao instrumento WHO-5 e perguntas da escala de bem-estar McConkey (2020). O programa foi especialmente eficaz em famílias com maior estresse inicial. A utilidade do chatbot foi maior nas famílias com maior nível de escolaridade e naquelas com maiores vieses comportamentais, como o viés do presente (não ver benefícios futuros das ações atuais) e a fadiga cognitiva. Esses vieses podem afetar o vínculo entre o cuidador e a criança, o investimento dos pais e o desenvolvimento da criança.
Os resultados sugerem que a combinação de tecnologias, como mensagens e chamadas de aconselhamento por telefone, pode substituir, em parte, o contato face a face, alcançando resultados potencialmente sustentáveis e escaláveis. Essa modalidade provou ser eficaz na redução das barreiras de acesso ao programa e na expansão de seu alcance. No entanto, são necessários estudos adicionais para comparar a relação custo-benefício do programa remoto em relação ao tradicional (presencial) e para determinar se o impacto se deve ao conteúdo do programa em si ou se também influencia o maior conhecimento de outros serviços de proteção social. Além disso, planeja-se complementar esses resultados com registros administrativos e realizar um monitoramento de médio prazo para avaliar a sustentabilidade dos efeitos.
Fornecer às mães e aos pais informações oportunas, recursos e estratégias de apoio antes, durante e depois da gravidez é fundamental para prevenir o nascimento prematuro, reduzir a morbidade e a mortalidade infantil e promover o desenvolvimento da criança, especialmente em ambientes vulneráveis (Arteaga et al., 2024; Rafla et al., 2024). Os programas de visitas domiciliares ou oficinas em grupo que oferecem essas ferramentas têm se mostrado eficazes, mas sua escalabilidade continua sendo um desafio devido aos custos operacionais e logísticos (Attanasio et al., 2022a). A incorporação de tecnologias digitais surgiu como uma alternativa viável para expandir a cobertura desses programas (York et al., 2018)
Além disso, várias barreiras comportamentais –como o viés do tempo presente, o viés do status quo, ligado ao comportamento inercial que não incorpora o conhecimento recém-adquirido, e o viés da negatividade, relacionado à tendência de se lembrar mais dos aspectos negativos de um evento do que dos positivos– podem limitar a interação entre cuidadores e crianças, afetando negativamente seu desenvolvimento.
Nesse contexto, em 2017, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Montevidéu, da Universidade Católica do Uruguai, da ONG Fe y Alegría e da Fundação América por la Infancia criou a Crianza Positiva, uma iniciativa de baixo custo que combina avanços tecnológicos e aprendizados da economia comportamental para apoiar os cuidadores de crianças de 0 a 2 anos que frequentam creches públicas. A intervenção consiste em oito sessões semanais em grupo, complementadas por mensagens de texto enviadas três vezes por semana durante 25 semanas após o término dos workshops.
O Fundo DPI apoiou a extensão do Crianza Positiva para o estágio pré-natal e a incorporação de tecnologias digitais no estágio pós-natal existente. Com o objetivo de acompanhar as famílias desde a 12ª semana de gestação até o nascimento do bebê, uma equipe interdisciplinar –composta por neonatologistas, obstetras, ginecologistas, parteiras e psicólogos– desenhou o Embarazo Positivo, uma série de mensagens interativas e personalizadas sobre bem-estar emocional, nutrição, atividade física e preparação para o parto. As mensagens foram enviadas por meio de um chatbot acessível via WhatsApp e promoveram a participação do casal no processo de gravidez, incentivando seu envolvimento nos cuidados com o bebê desde antes do nascimento.
Na fase pós-natal, o chatbot foi incorporado à Crianza Positiva, fornecendo informações adicionais sobre amamentação, sono seguro, desenvolvimento socioemocional e corresponsabilidade parental. O conteúdo foi estruturado de acordo com os marcos do desenvolvimento infantil, garantindo que as famílias recebessem informações relevantes no momento certo. 9
Um aspecto inovador dessa iniciativa foi a articulação com os provedores de saúde, desde a fase de concepção da mensagem até a seleção das gestantes e o atendimento. Por meio do uso do chatbot e das avaliações de linha de base e de acompanhamento, foram identificados os riscos associados à depressão, à insegurança alimentar e à violência doméstica, estabelecendo canais de encaminhamento para os serviços de saúde, caso alguma necessidade fosse detectada.
A iniciativa Embarazo Positivo alcançou 1.190 mulheres, proporcionando-lhes acompanhamento virtual desde a gestação até o bebê completar seis meses de idade. Uma avaliação de impacto, baseada em pesquisas telefônicas, comparou 595 mulheres designadas aleatoriamente para o grupo de tratamento com 595 no grupo de controle. A avaliação mediu os resultados entre 37 e 38 semanas de gravidez e aos 6 meses de vida da criança em quatro dimensões: (i) saúde mental, (ii) hábitos de vida saudáveis, (iii) corresponsabilidade pelas tarefas domésticas e (iv) informações e conhecimento sobre a gravidez. É importante destacar que 49% das mulheres do grupo de tratamento optaram por convidar seu parceiro para receber as mensagens do programa.
Os resultados de um relatório preliminar indicam que o Embarazo Positivo teve efeitos significativos associados ao bem-estar das gestantes. Foi observado um aumento em seu bem-estar geral, com um aumento de 3 pontos percentuais em suas competências durante a gravidez –conforme medido pela escala Well-being in Pregnancy (WiP)– e maior participação em atividades de autocuidado (3,3% maior) e tempo de lazer (5,4% maior). Os participantes relataram satisfação com as informações recebidas. Houve também um aumento no uso da licença parental. No entanto, houve um aumento inesperado no risco de depressão entre os participantes (4,5% de acordo com a Escala de Depressão Pós-Natal de Edimburgo (EPDS), sugerindo maior abertura emocional ou estresse associado às expectativas do programa.
No período pós-natal, os resultados preliminares da combinação do Embarazo Positivo com o Crianza Positiva foram mistos. Embora tenha havido uma melhora no bem-estar materno, foi detectada também uma menor estatura para a idade nos bebês e uma maior prevalência de anemia –indicadores construídos a partir de relatos maternos– possivelmente como consequência de mais informações devido ao uso mais frequente de exames de saúde. Não houve diferenças significativas nas práticas parentais, na corresponsabilidade mãe/pai pelos cuidados com o bebê ou no desenvolvimento socioemocional. Isso sugere que talvez sejam necessárias abordagens de acompanhamento mais intensivas, incluindo espaços para interação interpessoal, como ligações telefônicas ou workshops presenciais.
Crianças criadas pelos avós em El Salvador: Um censo para entender a estrutura das famílias e suas necessidades
De acordo com as estimativas das Nações Unidas (ONU, 2020), a América Central é uma das três regiões do mundo com a maior proporção de lares de "salto geracional", em que as crianças crescem sob os cuidados dos avós, sem a presença da geração intermediária. De acordo com dados de pesquisas domiciliares, nos países do Triângulo Norte, entre um quinto e um quarto das crianças de 3 a 6 anos são criadas pelos avós: 18% na Guatemala, 25% em El Salvador e 29% em Honduras. Isso se deve em parte à migração de ambos os pais para os Estados Unidos e o Canadá, que deixam as crianças sob os cuidados dos avós ou de outros parentes (Musalo et al., 2015).
A ausência dos pais afeta negativamente o desenvolvimento infantil, bem como, em estágios posteriores, a escolaridade e o acesso a empregos de qualidade (Daga et al., 2024; Deleire e Kalil, 2002; McLanahan et al., 2013). Para elaborar intervenções eficazes nessa área, é essencial entender a magnitude do fenômeno e suas implicações para a vida das crianças e de seus cuidadores.
Entre 2018 e 2019, o BID, o Ministério da Educação de El Salvador (MINED), a Visión Mundial e a Innovations for Poverty Action (IPA) realizaram um censo nos municípios de Soyapango e San Salvador –áreas com altos níveis de pobreza e violência– com o objetivo de obter uma compreensão profunda da situação das crianças que crescem na ausência dos pais.
No total, foram coletados dados de 24.836 domicílios para analisar a estrutura familiar, as condições socioeconômicas, as percepções de insegurança e os níveis de vitimização. Nos domicílios com crianças pequenas, também foram coletadas informações sobre o desenvolvimento infantil e as práticas parentais. O censo buscou compreender os efeitos da migração dos pais no desenvolvimento das crianças, no desempenho escolar e no bem-estar emocional, a fim de orientar a elaboração de intervenções adequadas em um contexto de alta migração.
O instrumento Developmental Milestones Checklist, desenvolvido pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC), foi usado para medir o desenvolvimento infantil. As características das práticas parentais foram medidas por meio do Family Care Indicators (FCI) e do módulo de disciplina da Multiple Indicators Cluster Survey (MICS). Por fim, o Parental Sense of Competence (PSOC) foi usado para avaliar a autopercepção dos cuidadores sobre suas habilidades e competências.
Esse censo pioneiro forneceu uma visão detalhada de como a composição familiar influencia o bem-estar da criança, permitindo que estratégias e programas de apoio sejam adaptados para melhorar as condições de vida dessas crianças e de seus cuidadores.
Do total de domicílios pesquisados, 23% tinham crianças de 1 a 7 anos de idade. Dessas, 63% viviam com ambos os pais, 33% com apenas um dos pais e 4% com nenhum dos pais. Na maioria dos domicílios com ausência parental, era o pai que estava ausente. Em 66% dos domicílios em que ambos os pais estavam ausentes, os avós eram os principais cuidadores e, naqueles com apenas um dos pais presentes, essa proporção era de 41%.
Os dados mostram que as famílias com um ou ambos os pais ausentes têm maior probabilidade de estar abaixo da linha da pobreza, ter renda mais baixa e níveis mais baixos de riqueza. Além disso, a ausência do pai tende a associar-se a um maior estresse do cuidador (geralmente a mãe). O mesmo se aplica aos cuidadores primários em lares com um ou ambos os pais ausentes. Por sua vez, os cuidadores substitutos — avós e tios — são mais propensos do que os pais e as mães a recorrer ao castigo físico como estratégia para corrigir comportamentos inadequados.
Outra descoberta é o menor investimento no desenvolvimento de crianças que crescem sem os pais. Os responsáveis passam menos tempo em atividades como ler, cantar e brincar em comparação com as famílias em que ambos os pais estão presentes. Além disso, essas crianças têm uma variedade menor de brinquedos e menos brinquedos que estimulam o desenvolvimento cognitivo, como blocos ou formas geométricas.
Em termos de desenvolvimento, as crianças criadas em lares com "salto geracional" apresentaram níveis mais baixos de habilidades cognitivas e socioemocionais, possivelmente devido ao menor investimento de tempo e recursos em sua educação. No entanto, elas tinham maior probabilidade de serem matriculadas em centros de educação infantil ou escolas, o que sugere que esses ambientes podem desempenhar um papel fundamental na atenuação das lacunas de desenvolvimento.
Em El Salvador, a migração parental é um fenômeno cada vez mais comum, com milhares de crianças crescendo em lares onde um ou ambos os pais migraram. Essa situação representa desafios significativos para seu desenvolvimento emocional, social e educacional, pois a ausência dos pais pode limitar o acesso a recursos, afetar a estabilidade da família e reduzir as oportunidades de aprendizagem. Entretanto, os estudos sobre a ligação entre a migração e o desenvolvimento infantil precoce são muito escassos devido à falta de dados (Näslund-Hadley et al., 2020). Essa falta de evidências dificulta a formulação de políticas públicas eficazes para cuidar dessas crianças e de seus cuidadores.
Para preencher essa lacuna de informações, o Ministério da Educação de El Salvador (MINED), o BID, o Innovations for Poverty Action (IPA) e a Yale University realizaram um censo exploratório durante março e abril de 2024, que permitiu a coleta de informações de 11.621 domicílios e a identificação e caracterização de 19.747 crianças e adolescentes entre 0 e 17 anos. Essa iniciativa complementa um projeto do Fundo DPI que coletou dados de domicílios em Soyapango e San Salvador com crianças que crescem na ausência dos pais (consulte a Ficha 10 para obter mais detalhes).
A coleta de dados combinou ferramentas digitais (chatbots e pesquisas na Web) com chamadas telefônicas diretas, de acordo com as preferências e possibilidades de conexão de cada família participante. Por meio dos diretores dos centros educacionais administrados pelo MINED, inicialmente foi enviado um link para um chatbot do WhatsApp para identificar o tipo de domicílio e redirecioná-lo para a pesquisa on-line correspondente (domicílios com crianças menores de 18 anos e pelo menos um dos pais ausentes, domicílios com crianças menores de 18 anos e ambos os pais presentes e domicílios sem crianças). Essas informações permitiram que a estrutura da amostra fosse definida e que as informações básicas fossem coletadas. Posteriormente, foi realizada uma pesquisa telefônica mais detalhada sobre tópicos como composição familiar, histórico de migração, condições socioeconômicas, práticas parentais, escolaridade, bem-estar emocional e comportamentos de risco das crianças.
A principal conquista do projeto foi a construção de um banco de dados sem precedentes sobre lares salvadorenhos com crianças em situação de ausência parental, abrangendo todo o território nacional e com uma amostra representativa de quase 20.000 crianças e adolescentes. Esse banco de dados representa um insumo fundamental para análises futuras e para a elaboração de políticas públicas para a proteção de crianças no contexto de um fenômeno crescente como a migração.
*Como parte do projeto original, foi inicialmente realizada uma análise de dados secundários em Honduras, Guatemala e El Salvador.
Além disso, o projeto avançou em um processo de contato com o MINED para explorar o cruzamento dessas informações com dados administrativos, como notas escolares e resultados de testes padronizados. Embora esse exercício tenha sido realizado de forma parcial –obtendo acesso a dados de alunos de 8 a 12 anos de idade–, ele representou um primeiro passo relevante para a integração de bancos de dados primários e administrativos, abrindo uma oportunidade para fortalecer estudos futuros e enriquecer a análise das trajetórias educacionais de crianças em lares com migração parental.
Entre as principais descobertas, identificou-se que 21,1% dos menores de 18 anos têm pelo menos um dos pais ausente e 20% vivem em lares onde um ou ambos os pais migraram desde 2015. Esses resultados destacam a urgência de adaptar as políticas de proteção social e desenvolvimento da primeira infância para responder às necessidades específicas desses lares, fortalecer o apoio aos cuidadores substitutos (como avós), desenvolver programas de apoio psicossocial para crianças com pais migrantes e melhorar a coordenação intersetorial entre o sistema educacional e os serviços de proteção social, garantindo uma abordagem abrangente à proteção infantil.
Tuchan: Um programa de acompanhamento familiar remoto para fortalecer as práticas parentais em famílias de salto geracional em El Salvador
Crescer em lares com ausência dos pais tem um impacto negativo no ambiente em que crianças são criadas e, consequentemente, em seu desenvolvimento (McLanahan et al., 2013). Os lares com ausência dos pais têm maior probabilidade de apresentar restrições econômicas, baixo nível de escolaridade e falta de acesso a recursos especializados, o que dificulta a criação de ambientes propícios à aprendizagem e ao bem-estar emocional. Por sua vez, os cuidadores, como os avós, comuns em lares de salto geracional, enfrentam desafios para oferecer estímulo adequado, crucial para o desenvolvimento infantil.
Os dados do censo de Soyapango e San Salvador em El Salvador (2018-2019) destacaram essa realidade (consulte a Ficha 10). Para lidar com isso, o Ministério da Educação de El Salvador (MINED), juntamente com a Visión Mundial, a Innovations for Poverty Action (IPA) e o BID, elaborou o programa Tuchan
O programa Tuchan (BID, 2020b) –cujo nome significa "Nosso lar" no idioma nativo Náhaut–tem como objetivo melhorar as práticas parentais dos cuidadores de crianças de 2 a 8 anos de idade em famílias de salto geracional. Para isso, fornece informações sobre DPI e sugestões de atividades diárias para estimular habilidades cognitivas relacionadas à matemática e à leitura, juntamente com ferramentas acessíveis e específicas ao contexto.
O programa foi desenhado para ser implementado de forma híbrida, oferecendo aos cuidadores suporte virtual e presencial, embora tenha sido ajustado para se tornar quase exclusivamente virtual durante a pandemia da COVID-19. O Tuchan inclui reuniões de grupo, treinamento individual em desenvolvimento cognitivo e socioemocional, assistência psicológica e kits com material sobre desenvolvimento infantil. A capacitação foi ministrada por especialistas por meio de workshops e visitas domiciliares. Assim, o Tuchan está posicionado como uma intervenção pioneira em capacitação especializada para avós e outros cuidadores em lares de salto geracional, fortalecendo suas capacidades de promover o desenvolvimento infantil em contextos altamente vulneráveis.
A intervenção incluiu duas modalidades avaliadas experimentalmente: (i) envio de informações por meio de um aplicativo móvel e lembretes por meio de três mensagens de texto semanais sobre serviços públicos próximos (bibliotecas, bancos de leite, centros de assistência) nas comunidades (grupo "somente informações"); e (ii) capacitação remota diária para o lar por meio de grupos do WhatsApp, nos quais os facilitadores compartilhavam vídeos e outros materiais digitais, além da modalidade (i) (grupo "habilidades e informações"). Ambos os grupos receberam material impresso e ligações semanais para monitorar o progresso das famílias na implementação das
atividades. O desenho e o conteúdo das mensagens foram baseados no aprendizado da teoria comportamental.
O objetivo da avaliação –que incluiu uma amostra de 533 cuidadores/famílias com pelo menos um dos pais ausentes– foi identificar qual tipo de apoio ao cuidador é mais eficaz para melhorar os resultados do desenvolvimento infantil, reduzir o estresse do cuidador e melhorar o bemestar do cuidador e da criança.
De acordo com o relatório de avaliação, as crianças de 4 a 6 anos de idade do grupo "somente informações" melhoraram significativamente as habilidades linguísticas (0,29 DP), conforme medido pelo Measuring Early Learning Quality and Outcomes (MELQO). Esse impacto não foi significativo para as crianças das outras faixas etárias. Por outro lado, as crianças de 4 a 8 anos do grupo "habilidades e informações" apresentaram uma melhora significativa no comportamento pró-social (0,18 DP), de acordo com o Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ). Os resultados também mostram aumentos no investimento dos pais, medido pelo número de brinquedos em casa, de acordo com o Family Care Indicators (FCI): 0,32 DP para o grupo "somente informações" e 0,34 DP para o grupo "habilidades e informações". Entretanto, os efeitos variam de acordo com as características do cuidador principal. Por exemplo, nos lares em que o cuidador principal é do sexo feminino, as mensagens de texto aumentaram o investimento dos pais (0,52 DP) e a incorporação da capacitação remota produziu um efeito ainda maior (1,1 DP). Em contrapartida, nas famílias com cuidadores com mais de 65 anos, o impacto da capacitação remota foi menor (0,5 DP).
Esses resultados destacam a importância de adaptar as estratégias de acordo com a idade das crianças e as características dos cuidadores para maximizar os benefícios.
Nos últimos anos, os países de baixa e média renda fizeram progressos na implementação de políticas para a primeira infância, embora as intervenções no desenvolvimento socioemocional continuem limitadas. As competências socioemocionais não apenas favorecem o desenvolvimento cognitivo, mas também reduzem os comportamentos de risco e melhoram os resultados socioeconômicos de longo prazo (Domitrovich et al., 2017)
Esses tipos de habilidades são particularmente relevantes em contextos como a América Latina e o Caribe, onde, apesar do progresso na cobertura e na qualidade da educação, persistem desafios significativos. As taxas de conclusão do ensino secundário continuam baixas e, em países como El Salvador, mais de 25% dos jovens não estudam nem trabalham, em grande parte devido à pobreza e à falta de oportunidades (OCDE, CEPAL e CAF, 2016). A violência e o crime agravam essa situação, afetando a frequência escolar e aumentando as taxas de evasão.
Melhorar a educação nesse contexto não é uma tarefa simples. A mentalidade de crescimento –entendida como a crença de que a inteligência e as habilidades podem ser desenvolvidas por meio do esforço e da aprendizagem– pode desempenhar um papel fundamental. As evidências mostram benefícios para a mentalidade dos cuidadores nos seguintes domínios: a maneira como eles elogiam as crianças e reconhecem seus esforços e conquistas, o comportamento em relação aos processos de aprendizagem, o feedback e o bem-estar emocional (Gunderson et al., 2018; Haimovitz e Dweck, 2016)
Por sua vez, a promoção dessa mentalidade de crescimento nas crianças poderia fortalecer aspectos cruciais para seu futuro desempenho educacional e ocupacional, como resiliência, perseverança, atenção e esforço.
O Empodera tu Mente en Familia é um programa criado para fortalecer a mentalidade de crescimento nos cuidadores de crianças de 4 a 7 anos, especialmente a capacidade de elogiar e reconhecer os processos de descoberta e aprendizagem. Ao fazer isso, ele melhora a qualidade das interações entre o cuidador e a criança de forma a favorecer seu desenvolvimento. Especificamente, o programa ensinou aos cuidadores o que é a mentalidade de crescimento, por que ela é importante e como aplicá-la e ensiná-la a seus filhos na vida cotidiana, com estratégias práticas.
O programa foi implementado por meio de um modelo híbrido que combinou três componentes: (i) uma visita domiciliar inicial, (ii) um programa de treinamento telefônico de oito sessões e (iii) lembretes por mensagem de texto. Para avaliar seu impacto, foi realizado um estudo experimental com 1.536 domicílios em San Salvador, Soyapango e áreas próximas em El Salvador. As famílias foram designadas aleatoriamente para um grupo de tratamento ou de controle. A coleta de dados incluiu pesquisas telefônicas e visitas domiciliares para medir as características sociodemográficas, a mentalidade de crescimento dos cuidadores e das crianças, bem como mudanças de comportamentos e atitudes.
Os resultados do relatório de avaliação indicam que o programa teve um impacto positivo na mentalidade de crescimento dos cuidadores, com um aumento de 0,22 DP no índice de Dweck e Master (2009) , que mede déficits na capacidade de melhorar com esforço, e 0,43 DP no índice de Attanasio et al. (2019) , que avalia atitudes e práticas relacionadas à mentalidade de crescimento. Também foi observado um efeito em alguns comportamentos associados, como a estratégia de feedback do cuidador (0,14 DP), que se refere à forma como o adulto comenta os sucessos ou erros, e as expectativas do cuidador em relação ao desempenho da criança (0,02 DP). Entretanto, não foram encontrados efeitos significativos em outras dimensões, como resiliência, perseverança ou estilo de ponderação do cuidador11 . Isso pode ser explicado pela adesão limitada ao programa (apenas 11% dos participantes concluíram todas as sessões) ou porque o desenvolvimento dessas habilidades exige mais tempo.
Uma descoberta relevante é que as crianças do grupo de tratamento demonstraram maior confiança ao enfrentar desafios, conforme sugerido pelo comportamento delas na atividade do Tangram, um quebra-cabeça que avalia as habilidades cognitivas e de resolução de problemas. Embora tenham feito menos tentativas de solução, suas pontuações finais não foram diferentes das do grupo de controle, o que poderia indicar maior confiança em suas respostas ou melhores habilidades de solução de problemas.
Em última análise, os resultados preliminares sugerem que o Empodera tu Mente en Familia foi eficaz no fortalecimento da mentalidade de crescimento dos cuidadores, o que, por sua vez, pode influenciar na criação e no desenvolvimento infantil. As evidências sugerem que essas intervenções têm o potencial de se tornarem estratégias escaláveis para melhorar o ambiente educacional e familiar em contextos altamente vulneráveis. Para maximizar seu impacto, as implementações futuras poderiam se concentrar em aumentar a adesão dos participantes, estender a duração do programa e reforçar o acompanhamento na transmissão da mentalidade de crescimento para as crianças.
11 A resiliência foi medida com a versão abreviada do McBride Resilience Questionnaire (NMRQ); a perseverança, com a escala Resilience in Midlife (RIM); e o feedback, com uma versão adaptada da escala usada em Meilahn (2007)
A pandemia da COVID-19 afetou muitos serviços essenciais, inclusive os serviços de educação, incluindo a educação infantil. O fechamento de centros de atenção infantil, pré-escolas e escolas forçou as famílias a assumir um papel mais ativo na educação das crianças, enfrentando desafios extraordinários, principalmente em contextos com dificuldades de conectividade e recursos socioeconômicos e de tempo limitados.
Uma pesquisa com 62.837 cuidadores em quatro países da região –Colômbia, Costa Rica, El Salvador e Peru– revelou que a pandemia aprofundou as desigualdades de aprendizagem, pois as crianças de famílias vulneráveis e seus cuidadores tinham menos recursos para lidar com os impactos econômicos e psicológicos desencadeados durante as emergências (Näslund-Hadley et al., 2020)
Para evitar que essas lacunas de desenvolvimento aumentassem ainda mais, o Ministério da Educação da Guatemala adaptou uma intervenção baseada em mensagens de texto implementada anteriormente na Costa Rica para promover habilidades cognitivas e socioemocionais em crianças de 4 e 5 anos de idade (Hernandez-Agramonte et al., 2024)
Foram elaboradas duas campanhas: a primeira concentrou-se na promoção do desenvolvimento cognitivo por meio de atividades de matemática e comunicação, de acordo com o currículo do Ministério da Educação. Por exemplo: “ Vamos somar! Pergunte ao seu filho: Se você tem quatro bananas e eu lhe der mais duas, quantas bananas você terá? Pratique todos os dias com quantidades diferentes.” A segunda campanha complementou essas mensagens mais cognitivas com outras voltadas para a promoção de habilidades socioemocionais, como vínculo seguro, educação positiva, hábitos saudáveis e autocuidado do adulto.
Um total de 4.133 cuidadores domiciliares de crianças de 4 e 5 anos matriculadas em pré-escolas de todo o país participaram. A fim de avaliar a adaptabilidade do programa à Guatemala e medir seu impacto, os participantes foram distribuídos aleatoriamente em três grupos: (i) um grupo que recebeu a campanha focada no desenvolvimento cognitivo, (ii) um grupo que recebeu a campanha combinada de desenvolvimento cognitivo e socioemocional e (iii) um grupo de controle. Esse projeto permitiu a medição rigorosa do impacto de cada modalidade. Durante 12 semanas, foram enviadas de 3 a 4 mensagens de texto por semana para os cuidadores, em um total de 53 mensagens por participante.
A avaliação do impacto mostrou que ambas as campanhas conseguiram aumentar a frequência das atividades de comunicação entre os responsáveis e as crianças (0,09-0,15 DP), bem como melhorar a percepção dos responsáveis sobre seu acesso a recursos educacionais (0,03-0,07 DP). Esse último é um indicador de investimento parental que pode refletir um maior envolvimento dos pais no processo de aprendizagem de seus filhos a longo prazo. Os cuidadores do grupo focado apenas no desenvolvimento cognitivo também aumentaram a frequência das atividades matemáticas (0,08 DP). Em contrapartida, o grupo que recebeu a campanha combinada de desenvolvimento cognitivo e socioemocional, os cuidadores não alteraram o número de atividades matemáticas nem as relacionadas a mensagens socioemocionais. Uma possível explicação é que o número de mensagens enviadas não foi suficiente ou que seu conteúdo não foi suficientemente bem direcionado para gerar uma mudança substancial em seu comportamento.
Por outro lado, o grupo de cuidadores designado para a campanha de desenvolvimento cognitivo e socioemocional apresentou um aumento nos níveis de estresse, conforme medido pela Parental Stress Scale (PSS), possivelmente porque as mensagens destacaram a importância do bem-estar da criança e do cuidador em um contexto de emergência, gerando preocupação com aspectos percebidos como fora de seu controle.
Nenhuma das intervenções teve efeitos significativos sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças (habilidades de contagem, habilidades de adição, consciência silábica, compreensão oral e vocabulário) ou sobre suas habilidades socioemocionais, especificamente habilidades de reconhecimento de emoções e empatia.
Esses resultados destacam o potencial do uso de campanhas de mensagens para fornecer informações aos cuidadores e a necessidade de complementar as mensagens com recursos para apoiar o bem-estar socioemocional dos cuidadores e, possivelmente, outros recursos para modificar os indicadores de DPI. Elas também fornecem informações sobre o tipo e a frequência das mensagens que podem ser ajustadas e avaliadas para se chegar a uma intervenção econômica.
Brincar durante os primeiros anos de vida é fundamental para estimular o desenvolvimento físico, social, emocional e cognitivo. Os pais não apenas influenciam a forma como a brincadeira é definida, valorizada e praticada, mas também facilitam o ambiente no qual as crianças podem explorar, aprender e crescer. Como os níveis de envolvimento dos pais variam de família para família –e geralmente são mais baixos em famílias de baixa renda–, as intervenções que visam aumentar o envolvimento dos pais nesses contextos são particularmente relevantes. A maioria dos estudos sobre aprendizagem baseada em brincadeiras concentrou-se em visitas presenciais, portanto, pouco se sabe ainda sobre o impacto de abordagens híbridas que combinam visitas presenciais e estratégias de atendimento remoto.
Com o objetivo de promover o desenvolvimento cognitivo e socioemocional de crianças de 0 a 2 anos, a Secretaria de Educação Pública do México (SEP) incorporou o programa de acompanhamento familiar Juega Todos los Días aos serviços oferecidos a crianças de famílias pobres e vulneráveis nos Centros Comunitários de Atenção à Primeira Infância (CCAPI) no estado de Morelos. Esse programa, baseado no programa Play Every Day (PED) da Sesame Workshop, tem como objetivo mudar a percepção dos cuidadores sobre o brincar e sua relação com o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.
Ao longo de 12 sessões semanais, educadores capacitados desenvolvem atividades para ensinar os cuidadores a se envolverem em brincadeiras com foco no reconhecimento das partes do corpo e suas funções, bem como em conceitos relacionados à matemática, consciência ambiental e desenvolvimento socioemocional. Originalmente desenhadas para serem ministradas presencialmente, as sessões foram adaptadas para um formato híbrido após a pandemia da COVID-19, combinando instâncias remotas –via WhatsApp– com encontros presenciais. Além disso, os materiais necessários para as atividades foram enviados pelo correio.
A intervenção foi avaliada por meio de um desenho experimental em que 60 CCAPI e 480 cuidadores familiares foram designados aleatoriamente para o grupo de tratamento, enquanto outros 60 CCAPI e 514 cuidadores familiares foram designados aleatoriamente para o grupo de controle. A avaliação quantitativa foi complementada por métodos qualitativos (entrevistas semiestruturadas).
Juega Todos los Días teve impactos em três níveis: educadores, cuidadores e crianças (Berlanga et al., 2023). Em primeiro lugar, as entrevistas semiestruturadas evidenciaram uma maior compreensão e conscientização sobre a importância das brincadeiras no desenvolvimento infantil,
tanto entre os educadores dos centros quanto entre os cuidadores domiciliares. Em segundo lugar, e de acordo com o acima exposto, o site mostrou melhorias na qualidade das interações e no tempo que os cuidadores domiciliares gastam em atividades que incentivam a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades emocionais e cognitivas: ler livros/olhar figuras (0,12 DP), cantar músicas (0,11 DP) e brincar com brinquedos (0,17 DP). Todas essas medidas foram baseadas nos Family Care Indicators (FCI). Por fim, houve uma melhoria nos indicadores de desenvolvimento infantil de 0,19 DP, conforme medido pela Developmental Milestones Checklist, mas somente para crianças com um nível mais baixo de envolvimento dos pais antes da intervenção.
Esses resultados mostram que o uso de tecnologias pode facilitar o acesso a populações que enfrentam dificuldades para receber atendimento presencial, seja devido a emergências ou a dificuldades logísticas. Eles também oferecem sugestões para a elaboração de iniciativas que sejam mais facilmente escaláveis sem perder o impacto.
Fortalecendo os cuidados e o desenvolvimento da primeira infância no México: Uma avaliação dos programas Bebés Más Fuertes e Desarrollo Óptimo en Niños
A importância crucial das brincadeiras para a criatividade, a imaginação e o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional nos primeiros anos de vida é inquestionável. Nesse sentido, a melhoria das práticas parentais, das interações e dos materiais que incentivam a brincadeira em casa tem um impacto positivo nos níveis de DPI (BID, 2024).
No México, como em outros países da América Latina e do Caribe, há diferenças socioeconômicas marcantes no tempo que os cuidadores gastam em atividades lúdicas com as crianças. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (ENSANUT) de 2021, as crianças de mães com menor escolaridade se desenvolvem em ambientes menos estimulantes, com menor variedade de brincadeiras e menos acesso a livros infantis. Especificamente, em lares onde a mãe não tem ensino médio, apenas 45% dos cuidadores primários participam de pelo menos quatro atividades lúdicas com a criança durante um período de três dias. Em contrapartida, esse número aumenta para 75% quando a mãe tem ensino médio ou superior (BID, 2024).
Em 2022, a Secretaria de Educação Pública (SEP) do Estado do México lançou duas iniciativas voltadas para a promoção de boas práticas parentais entre os cuidadores de crianças de 0 a 3 anos: (i) o programa Bebés Más Fuertes (BMF) e (ii) o programa Desarrollo Óptimo en Niños (DON).
O programa BMF busca promover o desenvolvimento físico e emocional, bem como a comunicação e as brincadeiras das crianças, por meio de 14 sessões semanais (presenciais ou virtuais) de acompanhamento em grupo ministradas por guias educacionais e sessões individuais de acompanhamento virtual com cuidadores, conduzidas por esses mesmos guias. Seu conteúdo inclui informações sobre os benefícios da amamentação e atividades para fortalecer as habilidades motoras, socioemocionais, cognitivas, de linguagem e de autoestima.
O programa DON busca mudar as percepções e expectativas dos cuidadores sobre o nível de desenvolvimento de seus filhos e fornecer informações sobre atividades para estimulá-lo. Questionários específicos para cada idade avaliam aspectos socioemocionais, habilidades motoras e resolução de problemas. Os resultados e as recomendações de atividades –caso sejam detectadas áreas que exijam reforço– são compartilhados com os cuidadores e guias educacionais, que oferecem sessões mensais de acompanhamento via WhatsApp.
Para avaliar o impacto dos programas, foi realizado um estudo de métodos mistos. Na avaliação experimental quantitativa, 2.135 cuidadores de crianças de 0 a 3 anos, matriculados em escolas do Estado do México, foram distribuídos aleatoriamente em um dos três grupos: 711 no programa BMF, 711 no DON e 713 no grupo de controle. No entanto, a alta contaminação entre os grupos
–devido ao fato de os cuidadores participarem de sessões de um programa diferente daquele para o qual foram designados– impediu uma interpretação clara dos resultados quantitativos, portanto, eles não são relatados. A avaliação qualitativa incluiu entrevistas presenciais de 30 a 40 minutos com 20 cuidadores participantes distribuídos nos 3 grupos: 7 do programa DON, 7 do programa BMF e 6 do grupo de controle.
A partir da análise das entrevistas, ficou claro que os cuidadores de ambos os programas relataram um aumento nas atividades com seus filhos. Os que foram designados para o programa BMF destacaram a clareza e a qualidade dos materiais e expressaram seu desejo de receber mais sessões e mais longas. Eles também expressaram ter incorporado conteúdo e estratégias para o desenvolvimento infantil e ter aumentado seu conhecimento e a implementação de atividades específicas para estimular a linguagem e a comunicação por meio de brincadeiras.
No caso do programa DON, os cuidadores observaram que a intervenção os ajudou a reconhecer o nível de desenvolvimento abrangente e socioemocional de seus filhos, bem como a identificar problemas comportamentais relacionados à saúde mental. Eles também mencionaram uma mudança em suas percepções e expectativas relacionadas aos estágios do desenvolvimento infantil. No entanto, vários cuidadores relataram dificuldades para acessar os resultados das avaliações e os guias educacionais devido à falta de conexão em seus telefones celulares.
pré-escolar no Uruguai: Empoderar os pais por meio da informação
Garantir o acesso à educação pré-escolar de qualidade é um elemento fundamental para reduzir as desigualdades desde o início da vida. No entanto, as crianças que não frequentam regularmente a escola perdem oportunidades de aprendizagem e têm seu processo de aquisição de habilidades interrompido, o que dificulta o alcance de todo o seu potencial (Berlinski et al. 2008). Em 2018, apesar de ter praticamente alcançado a matrícula universal de crianças de 4 e 5 anos de idade em programas pré-escolares, o Uruguai enfrentava um sério problema de absenteísmo: mais de um terço das crianças dessas idades matriculadas estavam frequentando de forma inconsistente, ou seja, menos de 75% dos dias. O absenteísmo era ainda maior entre as crianças de famílias de baixo nível socioeconômico.
Há vários motivos pelos quais os pais optam por mandar seus filhos para a pré-escola de forma intermitente: alguns fatores estruturais ligados às características domésticas e contextuais –como o nível educacional dos pais, a renda familiar, o acesso ao transporte para a escola– e outros relacionados a vieses comportamentais que influenciam o comportamento dos pais, como, por exemplo, não identificar totalmente os benefícios de longo prazo da frequência à préescola (viés do presente).
Para reduzir o absenteísmo na educação pré-escolar, o Conselho de Educação Infantil e Primária (CEIP) da Administração Nacional de Educação Pública (ANEP) –juntamente com uma equipe interdisciplinar de psicólogos, educadores e economistas– desenvolveu uma campanha de mensagens de texto direcionada aos pais de crianças de 4 e 5 anos matriculadas em pré-escolas públicas. Depois de identificar vieses comportamentais por meio de grupos de discussão, um conjunto de mensagens de texto foi criado para "estimular" os pais a considerar os benefícios de longo prazo da frequência regular à pré-escola em suas decisões e, assim, reduzir o absenteísmo.
Durante 13 semanas, as famílias receberam mensagens de texto informativas sobre as ausências de seus filhos nas três semanas anteriores, destacando os benefícios imediatos e de longo prazo da frequência à pré-escola e oferecendo estratégias para planejar melhor a semana e reduzir o absenteísmo. A campanha, que compreendeu um total de 43 mensagens, foi realizada usando o aplicativo móvel GURÍ Familia do governo, que facilita o monitoramento educacional e a comunicação entre os centros educacionais e as famílias.
Para avaliar rigorosamente o impacto da intervenção, 97 escolas públicas de educação infantil foram aleatoriamente designados para o grupo de tratamento (recebendo mensagens de texto) e 97 para o grupo de controle (não recebendo mensagens de texto). A amostra total de famílias incluiu 9.782 pais no grupo de tratamento e 9.490 no grupo de controle.
A avaliação de impacto concluiu que a intervenção não teve impacto agregado significativo na evasão escolar ou no desenvolvimento de habilidades cognitivas (Ajzenman et al., 2022). Embora esse resultado possa parecer desanimador à primeira vista, uma análise mais aprofundada identifica efeitos positivos para crianças com níveis de absenteísmo próximos à mediana e para aquelas que frequentam escolas em áreas de níveis socioeconômicos médios e baixos (quintis 1-4 da distribuição de renda). Para esse grupo, há um aumento na taxa de frequência pré-escolar de 2% (equivalente a um aumento de 1,8 dias) e melhorias no desenvolvimento da linguagem entre 0,25 DP e 0,4 DP, dependendo do nível inicial de absenteísmo. Não houve melhorias no conhecimento matemático, nas habilidades motoras ou no desenvolvimento socioemocional. A medição das habilidades cognitivas, linguísticas, motoras e socioemocionais foi baseada no Inventário de Desenvolvimento Infantil (INDI), um instrumento desenvolvido pela Faculdade de Psicologia da Universidade da República do Uruguai que avalia a aptidão para a escolarização de crianças de 3 a 6 anos de idade.
A ausência de impactos em domicílios com níveis muito altos de absenteísmo pode ser atribuída à necessidade de apoios ou incentivos adicionais, além das mensagens de texto, por exemplo, financiamento para o deslocamento até a escola. Por outro lado, nas famílias com baixos níveis iniciais de absenteísmo, a frequência pode ter atingido um "pico" ou um nível "estável", difícil de modificar com lembretes ou incentivos adicionais.
O acesso a creches de alta qualidade pode beneficiar significativamente o desenvolvimento de longo prazo das crianças em áreas como educação, emprego e saúde. Embora os efeitos desses serviços tenham sido documentados em pequena escala, incluindo efeitos de longo prazo (Conti at al., 2016) ), há poucas avaliações de seu impacto de médio e longo prazo em grande escala. A realização de tais estudos e o acompanhamento de longo prazo de seus participantes implicam em altos custos e desafios logísticos que dificultam sua implementação. No entanto, o uso de dados administrativos pode superar essas barreiras, desde que possa ser vinculado à frequência às creches e aos registros individuais das crianças.
No Rio de Janeiro, as creches administradas pela Secretaria Municipal de Educação (SME) oferecem atendimento em tempo integral para crianças de 0 a 4 anos em bairros de baixa renda, com serviços de saúde, alimentação e educação infantil. Em 2007, a cidade contava com 244 creches publicas gratuitas, mas a demanda era muito maior do que a oferta. Naquele ano, o governo municipal implementou um sistema de sorteio para alocar as vagas disponíveis, distribuindo aleatoriamente 10.000 vagas entre 24.000 crianças candidatas.
Attanasio et al. (2022b) compararam os indicadores nutricionais e de desenvolvimento entre as crianças que conseguiram uma vaga e as que não conseguiram, quatro e sete anos após a alocação. Quatro anos depois, os autores constataram melhorias na altura, no peso, no índice de massa corporal e no desenvolvimento cognitivo, além de um aumento na renda familiar devido à maior inserção dos adultos no mercado de trabalho. Entretanto, sete anos após a alocação das cotas, os efeitos sobre as funções cognitivas ou executivas das crianças não eram mais observáveis e o aumento na renda familiar havia se dissipado.
Para estender e complementar as descobertas de Attanasio et al. (2022b), o Fundo DPI apoiou um estudo que usa a mesma coorte de crianças e combina seus dados com registros administrativos do sistema educacional para quantificar o impacto da frequência aos cuidados infantis no desempenho acadêmico na educação primária, entre 3 e 11 anos após o sorteio (Carneiro et al., 2021)
Para medir esse impacto, foram utilizados registros administrativos de exames trimestrais de matemática e linguagem para cada ano letivo entre 2010 e 2018, bem como os resultados do teste padronizado Prova Rio, que avalia o desempenho em linguagem e matemática e é aplicado no final da terceira série em todas as escolas públicas municipais. Foi possível vincular 83% e 64% da amostra original a esses registros. Assim, a amostra final do estudo incluiu 13.660 crianças das 24.000 que inicialmente participaram do sorteio, das quais 5.729 obtiveram uma vaga e 7.931 não. Os resultados 18 FICHA
devem ser interpretados com cautela, pois a amostra apresenta altos níveis de perda ou desgaste, possivelmente devido ao fato de os alunos terem se mudado ou migrado para outras partes do país.12
Os resultados da avaliação de impacto confirmam que, no curto prazo, ganhar no sorteio aumentou a matrícula em creches entre 7% e 13%. As crianças beneficiárias permaneceram matriculadas por mais cinco meses do que aquelas que não conseguiram uma vaga, o que representa um aumento de 0,4 anos na escolaridade entre 0 e 5 anos de idade (Carneiro et al. 2021).
Em médio prazo, foi observada uma redução no absenteísmo escolar de 0,76 dias por ano (uma diminuição de 16%), mas somente para crianças de 4 anos (pré-escola). Em termos de desempenho acadêmico em exames periódicos, não foram encontradas melhorias significativas em geral ou por idade. No entanto, ao analisar o efeito por gênero separadamente, foram observadas melhorias entre os meninos de 7 e 12 anos. Também não há efeito geral sobre o desempenho no teste padronizado Prova Rio. Assim como no desempenho em cada ano acadêmico, os meninos apresentaram melhorias nesse teste, especialmente na área de linguagem (6,3%).
12 Uma análise robusta dos resultados usando Lee bounds –um método estatístico para examinar a sensibilidade das avaliações de impacto contra desgaste em amostras (Lee, 2009)– não encontrou efeitos significativos para nenhum indicador ou subgrupo. Para obter mais informações sobre o método, consulte McKenzie (2024).
e do estado do desenvolvimento da primeira infância no México
Garantir a qualidade dos serviços de cuidado infantil é tanto uma prioridade quanto um desafio para os provedores públicos no México e em outros países da região. Tradicionalmente, a qualidade nesses espaços tem sido avaliada com base em fatores físicos, como infraestrutura, equipamentos, quociente de atenção (proporção criança/cuidador), materiais disponíveis e rotinas pedagógicas, conhecidos como qualidade estrutural. No entanto, a qualidade dos processos –ou qualidade das interações– que abrange a quantidade e a natureza das interações efetivas –calorosas, receptivas e ricas em linguagem– entre os cuidadores dos centros e as crianças, é fundamental para seu desenvolvimento cognitivo, linguístico e socioemocional.
Na última década, o México promoveu vários esforços políticos para fortalecer a assistência na primeira infância e garantir oportunidades de desenvolvimento para crianças com menos de 3 anos de idade. Um primeiro passo fundamental para melhorar esses serviços é ter um diagnóstico detalhado de sua qualidade, com ênfase especial na qualidade das interações em sala de aula.
Entre 2018 e 2020, o BID e a Secretaria Executiva do Sistema Nacional de Proteção Integral de Crianças e Adolescentes (SIPINNA) colaboraram em um estudo pioneiro no México, com representatividade nacional e por prestador, sobre a qualidade das creches públicas a crianças menores de 3 anos. A pesquisa abrangeu 245 centros administrados pelos cinco principais prestadores do país, com uma amostra de 426 salas de aula e 2.115 crianças e lares.
O estudo avaliou tanto a qualidade estrutural quanto a qualidade do processo. Para essa última, foi usado o Classroom Assessment Scoring System (CLASS, versão para crianças pequenas), o padrão internacional para medir a qualidade das interações em ambientes de cuidados infantis. O instrumento avalia duas dimensões amplas: (i) apoio emocional e comportamental e (ii) apoio motivacional para a aprendizagem, que mede se o cuidador incentiva a aprendizagem por meio de conversas, participação ativa e feedback. Para este estudo, as atividades em duas salas de aula por creche foram filmadas durante quatro horas. A filmagem foi então segmentada e codificada de acordo com os protocolos do CLASS.
Além disso, as informações sobre a qualidade estrutural –como o estado da infraestrutura, o tipo e a quantidade de equipamentos, as condições de segurança, a organização do espaço e as rotinas–foram coletadas por meio de pesquisas nas creches e nas salas de aula, com itens por entrevista e itens por observação. Como parte do estudo, uma pesquisa domiciliar também foi aplicada a até seis crianças por sala de aula da amostra para saber mais sobre suas condições socioeconômicas, a qualidade do ambiente doméstico –de acordo com os Family Care Indicators (FCI)– e seus níveis de vocabulário, usando os MacArthur-Bates Communicative Development Inventories (MB-CDI).
Os resultados revelam que as creches têm altos níveis de qualidade estrutural: infraestrutura segura, materiais adequados e uma variedade de atividades lúdicas e pedagógicas. Entretanto, a qualidade das interações entre os agentes educacionais e as crianças está na faixa média-baixa. As creches obtiveram uma pontuação CLASS total de 3,3, em média, com uma classificação de 4,2 (considerada média) para "apoio emocional e comportamental" e 1,8 (considerada baixa) para apoio motivacional para a aprendizagem (Rubio-Codina et al., 2021).
Em termos de quociente de atenção, o México tem uma média de 5,8 crianças por cuidador, o que é menor do que em outros países latino-americanos com estudos semelhantes, mas maior do que nos Estados Unidos (2,7 crianças por cuidador).
O estudo também destaca desafios importantes. A maioria das creches (98%) está localizada em áreas urbanas de marginalização baixa ou muito baixa, o que limita o acesso das crianças mais vulneráveis. Além disso, as crianças atendidas nessas creches tendem a vir de famílias com melhores condições socioeconômicas, ambientes mais estimulantes e níveis mais altos de desenvolvimento da linguagem.
Embora os níveis de qualidade das interações permaneçam na faixa média-baixa, como é o caso de outros serviços públicos de cuidados infantis na região, os resultados representam uma oportunidade fundamental para fortalecer o calor humano, o apoio emocional e a estimulação na sala de aula, que são essenciais para aprimorar o desenvolvimento infantil nas creches.
Com base no diagnóstico da qualidade das creches e da situação do desenvolvimento da primeira infância no México (Rubio-Codina et al., 2021) –consulte a Ficha 19 para obter mais detalhes–, foi desenhado um programa para melhorar o aspecto mais negligenciado nas creches: as interações entre cuidadores e crianças, cruciais para promover o desenvolvimento da primeira infância.
O programa que foi desenhado, Luciérnaga (Ríos-Salas et al., 2024), fortalece as capacidades dos agentes educacionais por meio de mentoria estruturada em ciclos de planejamento, observação e feedback, seguindo um currículo focado em 12 práticas priorizadas. Essas práticas foram identificadas por meio de uma revisão abrangente da literatura sobre a qualidade das interações entre cuidador e criança na sala de aula, usando o instrumento Classroom Assessment Scoring System (CLASS) como quadro de referência. O projeto foi baseado em programas de orientação bem-sucedidos, como o Practice-Based Coaching nos Estados Unidos, o Un Buen Comienzo (Um Bom Começo) no Chile e o Cerrando Brechas (Preenchendo lacunas) no Equador. Ele foi concebido de forma que a mentoria seja realizada por uma profissional da creche –por exemplo, a coordenadora pedagógica ou uma educadora– que provavelmente continuará em sua função regular. Essa mentora é capacitada em sua nova função por um facilitador de fora do centro, usando um modelo híbrido que inclui uma capacitação presencial inicial, sessões remotas síncronas e uma sessão de orientação presencial na metade do programa de formação.
O principal aspecto inovador do programa é a forma como ele foi concebido. Diferentemente da maioria das intervenções, que geralmente são concebidas nos escritórios centrais de uma organização e depois implementadas territorialmente em um determinado nível de escala, o programa Luciérnaga foi concebido por meio de um trabalho colaborativo entre as equipes técnicas do Instituto Mexicano do Seguro Social (IMSS) e do BID. Ele foi inicialmente testado com educadores de 16 creches em todo o país por meio de três ciclos iterativos de prototipagem-pilotagem-ajuste, até chegar a uma versão "final" do programa, que está em constante evolução com base nos aprendizados de cada nova implementação. Como foi construído com aqueles que posteriormente o implementarão, o Luciérnaga responde à realidade das creches e às necessidades de seus equipes, o que o torna mais sólido e deve aumentar sua eficácia.
Além disso, para facilitar a implementação, foi desenvolvida a caixa de ferramentas Luciérnaga: um kit que contém o ABC do programa com materiais específicos e diferenciados para educadores, mentores e facilitadores, adaptáveis a diferentes contextos e programas. O kit de ferramentas inclui 12 planilhas com as práticas priorizadas e as etapas para implementá-las, vídeos explicativos sobre as práticas e sobre como realizar a orientação, bem como recursos para o treinamento contínuo dos orientadores. Os materiais foram desenhados para educar e capacitar os participantes, permitindo que eles maximizem seu impacto na sala de aula.
O resultado do projeto é uma nova metodologia de mentoria estruturada em ciclos, que visa facilitar a aprendizagem e o desenvolvimento contínuos da equipe educacional a fim de melhorar a qualidade das interações entre cuidador e criança nas creches. Essa metodologia pode ser adaptada e replicada em outros contextos. Sua implementação oferece lições valiosas sobre como elaborar programas eficazes de mentoria: (i) trabalhar com base em necessidades e evidências, (ii) basear-se em ciclos de pilotagem e trabalho colaborativo de campo para permitir ajustes e melhorias, (iii) trabalhar com a própria equipe do centro e (iv) ter um kit com materiais concretos e pedagogicamente apropriados.
Durante o ano de 2024, o programa Luciérnaga foi implementado em 39 creches do IMSS, juntamente com uma avaliação qualitativa com o objetivo de melhorar seu conteúdo e abordagem de implementação, bem como identificar possíveis desafios para a ampliação. Essa avaliação inclui pesquisas com participantes em todos os espaços onde o programa foi implementado e entrevistas com participantes de 10 creches, facilitadores, chefes do Departamento de Cuidados Infantis e funcionários responsáveis pela concepção e implementação do programa Luciérnaga. Até o momento, as informações coletadas estão em processo de análise.
As crianças são uma população altamente vulnerável. De acordo com o CONEVAL (2022), no México, os níveis mais altos de pobreza são encontrados entre crianças com menos de 5 anos de idade (48,1% em situação de pobreza). De acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (ENSANUT) de 2022, apenas 10,2% das crianças com menos de 3 anos de idade têm acesso a programas de cuidado ou educação precoce em qualquer uma de suas modalidades. Em nível nacional, 79,5% das crianças entre 2 e 5 anos de idade têm desenvolvimento adequado de acordo com o Early Childhood Development Index 2030 (ECDI-2030) do UNICEF. Esse indicador também mostra uma lacuna socioeconômica: uma diferença de 8,5 pontos percentuais entre filhos de mães com ensino médio (83,0%) e filhos de mães com ensino fundamental ou menos (74,5%) e de 5,9 pontos percentuais entre crianças que vivem em localidades urbanas (81,1%) e aquelas em áreas rurais (75,2%) (INSP, 2024).
Nesse contexto, os Centros de Atenção Infantil Comunitários (CAIC) do Sistema Nacional de Desenvolvimento Integral da Família (SNDIF) prestam serviços educacionais e de atendimento a crianças em comunidades altamente vulneráveis. Um estudo recente sobre a realidade nacional mostrou que, embora esses centros sejam espaços seguros, com equipamentos e infraestrutura adequados, ainda há muito espaço para melhorias na qualidade das interações e no apoio emocional e motivacional para a aprendizagem em sala de aula (Rubio-Codina et al., 2021)
Com o objetivo de fortalecer as capacidades dos educadores e melhorar os ambientes de aprendizagem na primeira infância –por meio de formação, acompanhamento pedagógico e adaptação de espaços– foi realizado um projeto piloto para adaptar o modelo educacional da aeioTU ao contexto mexicano, semelhante à iniciativa implementada nos CAIPI do Panamá (consulte a Ficha 22 para obter mais detalhes). O modelo educacional aeioTU, implementado com sucesso na Colômbia, demonstrou seu impacto na melhoria das interações pedagógicas e no fortalecimento dos ambientes de aprendizagem na primeira infância (Nores et al., 2019). Para testar sua adaptação ao contexto mexicano, foi lançado um piloto em três CAIC no estado de Morelos, em parceria com a aeioTU-Fundación Carulla e o SNDIF.
O piloto incluiu três ciclos de formação virtual e sessões de orientação para diretoras, professoras e Formadores de Formadores. Os tópicos abordaram práticas pedagógicas inovadoras baseadas no uso de brincadeiras e exploração, ao mesmo tempo em que promoveram práticas positivas de disciplina e gestão educacional, combinando teoria e aplicação em sala de aula. Além disso, foi implementada uma estratégia de observação e feedback, permitindo que os participantes aplicassem e ajustassem a aprendizagem às suas próprias realidades.
Para complementar a formação, os espaços pedagógicos foram adaptados nos CAIC piloto, incorporando materiais didáticos, móveis adaptados e cantos de exploração, com o objetivo de promover a aprendizagem baseada na curiosidade e na interação. Por fim, como parte do processo, foi desenvolvido um guia metodológico que documenta a experiência piloto e oferece diretrizes para futuras adaptações.
O piloto beneficiou 6 professoras, 3 diretoras e 4 Formadores de Formadores por meio de um processo estruturado de formação e acompanhamento. Avaliações preliminares, realizadas antes e depois de cada sessão, mostraram um aumento de 35,67% na compreensão de práticas pedagógicas inovadoras, disciplina positiva e gerenciamento de sala de aula.
Além disso, o projeto melhorou os espaços de aprendizagem nos CAIC piloto, promovendo ambientes mais estimulantes que favorecem a interação entre crianças e educadores. Segundo com a mesma avaliação — de caráter descritivo e preliminar —, foi documentado que o programa também aprimorou a liderança das diretoras, otimizando a gestão dos centros.
O piloto deixou lições importantes sobre a adaptação metodológica ao contexto, a sustentabilidade institucional e a articulação territorial. Apesar de seu escopo limitado e de seu cancelamento devido a fatores institucionais que impediram sua implementação em uma escala maior, o projeto forneceu insumos valiosos para melhorar a qualidade da educação em comunidades vulneráveis.
Fortalecimento do atendimento à primeira infância: Programa de capacitação
A qualidade das interações entre cuidador e criança nos centros de atenção infantil está se tornando cada vez mais importante na região. Como mostram as evidências, essas interações têm um impacto crucial sobre o desenvolvimento cognitivo, o vocabulário, a nutrição, as habilidades motoras grossas e finas, a socialização e outros pilares do desenvolvimento (Behrman et al., 2004; Veramendi y Urzúa, 2011)
No Panamá, um estudo recente constatou que nos Centros de Atenção Integral à Primeira Infância (CAIPI) –que oferecem serviços de educação, cuidados, saúde e nutrição para crianças de 0 a 4 anos– a qualidade das interações era muito baixa (Freire et al.,2020). A pontuação média na Infant and Toddler Environment Rating Scale-Revised (ITERS-R) foi de 3 em um máximo de 7, o que coloca os CAIPI na faixa de interações de "qualidade mínima". A medição da Caregiver Interaction Scale (CIS) revelou que apenas 60% desses centros participavam de atividades de leitura e brincadeiras ao ar livre, o que sugere que os cuidadores não dedicam tempo suficiente a atividades que exigem interação direta com a criança. Um dos principais fatores por trás dessa baixa qualidade foi a falta de treinamento da equipe: apenas 27% tinham especialização em educação infantil.
Para atender a essa necessidade, o BID colaborou com o Ministério do Desenvolvimento Social (MIDES) e o aeioTU para desenhar um modelo de intervenção destinado a fortalecer o treinamento de educadores, professoras e cuidadores em serviço nos CAIPI e, assim, melhorar a qualidade de suas interações com as crianças.
O desenho do programa foi baseado em um diagnóstico detalhado em três CAIPI, onde foram avaliados o conhecimento da equipe, a qualidade dos espaços e os recursos didáticos. Os resultados desse exercício –consistentes com o estudo de diagnóstico nacional realizado por Freire et al.(2020)–mostraram baixos níveis de qualidade em áreas-chave como interações pedagógicas, planejamento educacional, protagonismo infantil e articulação com as famílias, o que destacou a necessidade de fortalecer a formação de talentos humanos e promover práticas educacionais mais intencionais e abrangentes.
Dez módulos de treinamento teórico e prático foram desenvolvidos com base no modelo educacional inovador do aeioTU –desenvolvido na Colômbia e inspirado na filosofia de Reggio Emilia– que se concentra nas crianças e promove suas capacidades por meio de exploração, brincadeiras, arte e interação social em ambientes de aprendizagem estimulantes. Os módulos abrangeram questões fundamentais da assistência integral à primeira infância, incluindo o reconhecimento da criança como um aprendiz ativo, a importância de interações significativas e a compreensão do desenvolvimento infantil. Também foram abordadas estratégias pedagógicas, como o uso de brincadeiras e exploração,
o planejamento educacional, o design de ambientes de aprendizagem adequados e o papel do CAIPI em suas comunidades. Além disso, foi incluído conteúdo para fortalecer as capacidades dos formadores, promovendo uma capacitação contínua e sustentável.
A capacitação foi recebida diretamente por 44 participantes: 29 professoras, 10 administradoras e 5 supervisoras, que concluíram os dez módulos e receberam sua certificação. Por meio de uma metodologia de capacitação em cascata, espera-se que essas formadoras treinem mais 267 professores em 94 CAIPI, beneficiando indiretamente cerca de 2.400 crianças.
Para medir o progresso no processo de formação, foram aplicados questionários antes e depois de cada sessão. Nos primeiros oito módulos, as participantes melhoraram em média 40 pontos. No início, sua pontuação média era de 47 de 100 e, no final, alcançaram uma média de 87, mostrando um progresso significativo em sua aprendizagem. Os dois últimos módulos, focados no desenvolvimento de habilidades para formar outras professoras, não foram avaliadas por testes escritos, mas um alto nível de participação e apropriação do conteúdo foi observado durante as atividades práticas.
Outra contribuição valiosa do projeto foi a elaboração de um instrumento para medir a qualidade pedagógica nos CAIPI, com base na ferramenta MIRAr da Argentina, que avalia as interações entre educadores e crianças com menos de 3 anos de idade (Lopez Boo e Ferro, 2019). O instrumento foi adaptado ao contexto panamenho e alinhado aos padrões de qualidade e ao currículo nacional. Sua implementação permitirá o monitoramento e a orientação de melhorias nas práticas educacionais.
Gane Tr3s: Corresponsabilidade público-privada para melhorar a qualidade dos centros de atenção infantil e
a inserção laboral feminina na Costa Rica
Na Costa Rica, o acesso a centros de atenção infantil é limitado: em 2021, apenas 16% das crianças de 3 anos tinham acesso a esses serviços (BID, 2024). De acordo com um relatório interno do projeto, a escassa oferta de centros de cuidado infantil e os altos custos dos serviços são as principais causas dessa situação. Essa falta de opções não afeta apenas o desenvolvimento na primeira infância, mas também limita as oportunidades de emprego das mulheres e reduz a produtividade das empresas (Bjorvatn et al., 2025). Em janeiro de 2023, a taxa de desemprego feminino atingiu 15,2%, em comparação com 9,5% para os homens (INEC, 2023).
As soluções de corresponsabilidade que integram os setores público e privado para melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados infantis são uma alternativa para enfrentar esses desafios.
O programa Gane Tr3s estruturou e implementou um modelo inovador de financiamento compartilhado (coparticipação) entre empresas, trabalhadores das empresas e outros atores da comunidade –como organizações de funcionários ou patrocinadores– para ampliar o acesso das crianças aos serviços de cuidados. Em alguns centros, o programa forneceu acompanhamento técnico para facilitar a conformidade com os padrões de qualidade exigidos. Entre 2020 e 2023, a iniciativa foi implementada com a participação da Rede Nacional de Cuidados e Desenvolvimento Infantil (REDCUDI), da Fundação para o Desenvolvimento Humano Vital (DEHVI) e da Aliança Empresarial para o Desenvolvimento (AED).
O programa envolveu sete empresas e 22 centros infantis, dos quais 17 operavam em um esquema de coparticipação. As modalidades de corresponsabilidade foram estruturadas de acordo com as necessidades de cada empresa e, em geral, combinavam três fontes de financiamento: a empresa, a família e as associações de funcionários. A contribuição variava de acordo com as possibilidades econômicas e gerenciais de cada ator, sendo que a contribuição da empresa era sempre maior (entre 64% e 90% do custo total). A contribuição das famílias variou de 10% a 24%. Em todos os casos, os custos de atendimento no centro foram cobertos para cada criança.
Além disso, dez desses centros receberam apoio técnico especializado da Fundação DEHVI, que conduziu um processo de formação e melhoria contínua. Por meio de capacitações para diretoras, workshops com agentes educacionais e cursos virtuais, as práticas pedagógicas e de gestão foram fortalecidas.
Sete empresas implementaram esquemas inovadores de coparticipação com critérios de qualidade, beneficiando 1.193 crianças. Para essas empresas, os resultados comparativos entre a situação dos trabalhadores participantes antes e depois da intervenção revelaram que, após a implementação do Gane Tr3s, a impontualidade e o absenteísmo foram reduzidos e a satisfação
no trabalho aumentou. Os centros de cuidado que participaram do programa melhoraram sua conformidade com os padrões de qualidade em 38%, em média, com diferenças significativas em relação ao grupo de comparação. As melhorias foram maiores nos centros com pontuações iniciais de qualidade mais baixas.
A experiência da Gane Tr3s serve como guia para a geração de alternativas que, diante das restrições fiscais à expansão dos serviços públicos, podem ampliar a cobertura de serviços de cuidado infantil e potencialmente beneficiar crianças, famílias e empresas. Ela também oferece orientação sobre como um modelo de corresponsabilidade pode gerar um círculo virtuoso no qual a qualidade do cuidado infantil, a estabilidade no emprego e o compromisso empresarial se reforçam mutuamente. Por fim, o Gane Tr3s alcançou continuidade e escala na Costa Rica: em 2024, o Instituto Nacional da Mulher (INAMU) lançou um programa de copagamento para pequenas e médias empresas inspirado nesse programa.
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